dezembro 16, 2009

Universidade Newton Paiva repercute aprovação da professora no Doutorado de Sociologia da USP


por Indhiara Souza

Isabelle Anchieta é jornalista e mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora no Centro Universitário Newton Paiva. Ela acaba de ser aprovada no doutorado da USP. Passou por seis etapas, de avaliação do currículo a prova de idioma. Enfrentou uma banca de cinco doutores para defender sua pesquisa “A Quarta Mulher”, conhecida e admirada por alunos e professores da Newton. Aqui ela fala desse desafio, que representa um novo momento em sua carreira.

Como foi passar pela banca dos professores da USP? Como conseguiu defender bem sua pesquisa?
Isabelle - Foi um grande desafio pra mim. Tenho desenvolvido a minha pesquisa há três anos e demorei um pouco para atingir certa maturidade para apresentá-la a um doutorado. A USP é muito rigorosa e é a maior nota do Brasil, o nível é internacional. Os doutores da banca foram duríssimos comigo, estudaram meu projeto, fizeram muitas críticas, mas na hora eu não quis recuar, quis defender o meu projeto, porque acredito muito nele. Disse que aquele não era apenas um projeto de doutorado, era projeto de vida.

Por que encara essa pesquisa como “projeto de vida”?
Esse projeto foi um encontro com uma questão central da minha vida. É isso que faz as pessoas terem ou não motivação. Pesquisei muito tempo coisas que não eram exatamente do meu interesse, porque eu sabia que eram do interesse das pessoas. Não parei para questionar o que eu queria. Mas num momento da minha vida, vi uma colega fazendo uma coisa que ela gostava e esse exemplo da vida dela foi importante para mim. Pensei em sondar e encontrar em mim uma coisa que fosse importante e a imagem sempre foi muito importante na minha vida. A imagem da mulher, especialmente, sempre me intrigou.

O que mais vai te deixar saudades na Newton Paiva?
A Newton Paiva foi, de todas as instituições em que trabalhei, a que mais me respeitou, a que mais valorizou meu trabalho. Vou enfrentar um desafio agora, porque estou migrando de área de conhecimento — sou do jornalismo e agora vou para a sociologia. Vou virar aluna de novo, estou adorando, mas fico triste em abandonar minhas aulas e deixar meus alunos aqui.

O que gostaria de falar aos alunos que ficam e que desejam ingressar na área de pesquisa, mestrado, doutorado...
A vida não é fácil, o conhecimento é a única coisa que ninguém pode te tirar. É uma escolha difícil, é uma estrada mais longa: tem que ter dedicação, saber pesar as coisas. Nunca deixei de ter o lazer, mas sempre coloquei as coisas na balança. Hoje os jovens querem realizar todos os prazeres agora, no imediatismo, e perdem a perseverança de construir uma vida sólida. É possível conciliar a vida social com os estudos, até porque estudo pode ser um grande prazer. Os livros construíram a minha vida, o conhecimento construiu minha história. É preciso ter certa obstinação, acreditar na gente e não deixar ninguém medir o nosso valor.

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dezembro 04, 2009

Professora é aprovada no Doutorado em Sociologa da USP para desenvolver sua pesquisa sobre as Imagens da Mulher


A cada dia me convenço que uma trajetória bem sucedida é o resultado da combinação entre nossos esforços em traçar um caminho e a abertura dele por algo que nos escapa. Nós: a Vida. Como um par que dança ritmado, em simbiose, uma música. Um só corpo. Alegres por perceberem que dois podem ser um. E nesse encontro tornam-se cada qual mais cientes de si. Eis o que sinto: sintonizada com a força e a beleza dos passos da vida. Passar no doutorado da USP em Sociologia foi o resultado dessa potente combinação. Dediquei-me durante os últimos três anos a pesquisa sobre a imagem da mulher até julgar que tinha uma maturidade razoável para ingressar no doutorado. Foi um caminho bonito. Queria recuperá-lo aqui como um inventário. Espero que não seja cansativo para você, meu leitor, mas trata-se de uma memória afetiva necessária para mim neste momento. Conto com sua amizade para recuperar esses fatos e pessoas que fizeram parte dessa conquista. O primeiro passo foi à oportunidade dada por Alexandre Michalick da Academia de Idéias. Bati em sua porta, sem conhecê-lo, com um papelzinho com propostas de cursos que variavam entre o jornalismo e a imagem da mulher. Advinha o que ele escolheu... Em novembro de 2007 Alexandre me dava à oportunidade de lecionar o curso "O papel da publicidade na constituição da Terceira Mulher”. Tenho de destacar a importância de Alexandre. Ele foi o primeiro a acreditar em minha pesquisa e sempre abriu as portas dessa maravilhosa casa de idéias em BH que tanto deu visibilidade ao meu trabalho. Não vou me esquecer. Pesquisei para montar o curso e estava ainda concentrada na terceira imagem. O curso foi um sucesso. Fui instigada pelos participantes a pensar coisas que não havia problematizado e especialmente percebi o interesse de homens e mulheres sobre o assunto. Foi o início da percepção da relevância social da pesquisa para além do meu interesse pessoal sobre ela. Disso surgiram duas reportagens de veículos que se interessaram pela minha discussão. Primeiro fui capa do caderno de cultura do Hoje em Dia no dia 9 de nov. de 2007. Conduzida pela jornalista Elemara Duarte percebi, na entrevista, que havia mais uma imagem: a quarta mulher. Ela surgiu desse diálogo com Elemara quando senti a necessidade de mais uma categoria para explicar os fenômenos que estava descobrindo. Eureca! Em seguida o Estado de Minas me procurou e deu uma página no caderno Bem Viver sobre a minha pesquisa, intitulado “A Quarta Mulher”, publicado no dia 25 nov. 2007. Foi uma surpresa para mim. Uma página! Com charge, chamada na capa do caderno, foto, além de uma abordagem cuidadosa dada pela jornalista Márcia Maria Cruz (minha caloura no mestrado em comunicação da UFMG).

Nesse período a minha coordenadora de curso, a querida Cida, convidou-me para fechar o semestre com uma palestra privada para os professores. Foi super bacana poder dividir com os colegas meu trabalho. Uma oportunidade que a Cida me ofereceu, generosamente, de aproximar-me de colegas que não tinha, até então, muito contato. Um voto de confiança.

Quero relembrar com carinho também o apoio de colegas, professores, em substituições, para que pudesse me ausentar para cumprir as atividades atreladas a pesquisa (agradeço especialmente ao Marcelo, a Sônia, a Carla e ao Agnaldo "Isa 2", rs). Além, claro, da compreensão dos meus alunos, que sempre me apoiaram, acima de tudo.

Disso tomei coragem e me inscrevi em um Congresso Internacional, indicado por uma colega e amiga, Carla Mendonça (doutoranda em Moda pela UFMG). Me inscrevi com dois trabalhos: “A quarta mulher” e “Laboratório de Moda Brasil” projeto que deselvolvi com minha mãe a designer de moda Adrienne Rabelo (que foi adaptado para se tornar uma série para a TV). Para a minha surpresa os dois projetos foram selecionados. Apenas 10 pesquisadores do mundo foram escolhidos para a apresentação oral e estávamos entre eles. Um orgulho! Não tínhamos condições de viajar a Madri. Mas, como diz minha mãe “a vida não dá asas a cobra, mas dá condições de vôo” conseguimos que a FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais) patrocinasse a nossa ida depois de várias reuniões com a querida Fernanda Cotta que apostou em nosso potencial para representar o estado de MG no 1º Congresso Internacional de Moda e Cultura em Madri. Fomos. E lá o convidado especial era nada menos do que o filósofo Gilles Lipovetsky. Sua obra A Terceira Mulher, foi o ponto de partida da minha pesquisa e queria muito ter a oportunidade de entrar em contato com ele. Mas, nem nas minhas mais otimistas expectativas poderia prever o que aconteceria lá: tornamos-nos grandes amigos. Ele foi super acessível, simpático e discutimos longamente sobre a minha pesquisa durante os intervalos. Ele vinha nos chamar (eu e minha mãe) a todo o momento para lhe fazer companhia. Trocamos emails e iniciamos uma intensa interlocução sobre a pesquisa. Em junho mais um presente da vida. Lipovetsky foi convidado pela PUC MG e daria uma palestra em BH!! Acreditam? Ele veio, ficou hospedado na casa de minha mãe, não quis ficar em um Hotel. Foi ótimo e tenso (confesso). Tenso antes de chegar, com os preparativos para recebê-lo e maravilhoso após sua chegada. Ele é simples, humano e foi super generoso comigo. Lembro-me das manhãs na varandinha da casa de minha mãe, discutindo sobre a pesquisa, fumando um cigarro, tomando cerveja e escutando bossa-nova. Ele ficava horas no computador levantando os livros que deveria ler e me recebia pela manhã com a frase: a noite estive pensando sobre a sua pesquisa e... seguido de dicas e comentário. Foi especial! Me deu força, segurança. Estava falando de igual para “igual” com Gilles Lipovetsky. Pelo menos foi dessa maneira que ele se portou comigo. Chegávamos a discutir e discordar sobre vários assuntos. Ora ele cedia, ora eu. Uma delícia! Como devem ser as interlocuções na academia. Uma aula.

Disso vieram vários convites para dar entrevistas. Em cada uma tinha a sensação que estava sendo preparada para algo maior. Uma espécie de teste. Ora ao vivo em 5 minutos (com a querida jornalista Sandra Gomes na Rede Minas, que participou dos meus cursos), ora em uma hora de duração, sabatinada por três jornalistas, Beth Barra (Hoje em Dia), Jemelice Luz (da União Brasileira de Mulheres) na Sala de Imprensa da TV Assembléia, convidada pela produtora e eterna amiga Danielle Langsdorf. E, em um bate-papo super gostoso na Rádio Itatiaia, aproximando a pesquisa da vida cotidiana das mulheres no programa Observatório Feminino com Maria Cláudia Santos, Mônica Miranda e Kátia Pereira.

Neste ano, em abril, Alexandre, da Academia de Idéias, me convidou a repetir o curso e pediu que sugerisse um nome de peso para debater comigo o assunto. Logo pensei: Mônica Waldvogel. Ele ficou surpreendido, pois já havia iniciado um convite a ela para dar uma palestra. Ela aceitou. Leu minha pesquisa, foi uma honra para mim. Nos encontramos antes da palestra em um almoço privado que reunia grandes nomes mineiros entre mulheres e homens. A Mônica foi perfeita e também super generosa. Elogiou a pesquisa e a necessidade que esse conhecimento fosse ampliado para todas as mulheres. Um momento especial que se repetiu no curso. Sintonizamos. O debate foi rico. Me senti no sofá do Saia Justa, rs. Depois disso trocamos emails e iniciamos uma rica interlocução. Passado duas semanas, novo convite: mediar um debate com Maitê Proença que viria lançar seu livro em BH na AI. Fui. E, ao fim da palestra ela me surpreende contando a todos sobre a minha pesquisa (que a Mônica havia comentado).

Não demorou muito e recebi um email da produção do Saia Justa me convidando para dar uma entrevista sobre a pesquisa. Nossa!! Tive a perfeita consciência que as entrevistas anteriores me prepararam para esse momento. Uma entrevista em um canal nacional> GNT. Elas dedicaram todo o segundo bloco a minha pesquisa e a debateram com muita consideração e inteligência (só senti a Betty Lago não estar no dia).

Para consagrar o caminho da pesquisa fui convidada pelas coordenadoras Cida e Marialice, para abrir a Semana da Comunicação da Newton Paiva (pela manhã e noite com a minha pesquisa). Uma honra. No auditório tive, pela primeira vez, grata oportunidade de apresentar para meus alunos o trabalho. Foi especial. Emocionante, pois o público eram eles: meus queridos companheiros do conhecimento. Foi a minha mais forte exposição, de todas, a que mais me marcou.

Depois senti que era o ano do doutorado. Meu desejo: fazer a pesquisa na Sociologia, já que minha pesquisa estava muito inserida nesse campo de conhecimento. No entanto, tentei tb na Filosofia, por minha identificação com Nietzsche (passei na prova teórica, para a minha surpresa e fui reprovada em francês) tentei na Comunicação na UFMG e meu projeto foi rejeitado (para minha decepção, pois os professores da casa conheciam meu trabalho, o que muito me estranhou...) e, por fim, quando já estava cheia de receios e inseguranças ia me submeter à última e mais importante e rigorosa seleção, onde não conhecia nenhum dos professores: Sociologia da USP. Foram seis duras etapas: avaliação do currículo, avaliação da produção acadêmica (livros, artigos publicados e participação em Congressos), avaliação do projeto, língua (francês), banca com cinco doutores (que foram muito duros e me instigaram a defender minha pesquisa, me despiram e me exigiram autenticidade: adorei) e por fim, entrevista com a orientadora. Resultado: APROVADA!!! Nossa, percebem como a vida não me deu outra opção e conduziu a escolha atrelada ao meu desejo? Incrível! Me deu a coragem necessária em ter de tomar decisões difíceis que se seguem, mas que concorrem para o meu crescimento: parar de dar aula na Newton Paiva (uma instituição que guardarei com extremo carinho pelo respeito que tiveram comigo); abandonar o convívio com meus alunos, que tanto me reconhecem, me alimentam de vontade e me respeitam; abandonar BH e minhas Serras, ficar longe da família e dos amigos, e ir para SP começar essa instigante etapa de renovação e crescimento. Eu e a vida, dançando embaladas pela potente e emocionante música que tem como tema meu propósito de vida...Agora, no entanto, conto com um par, que tem dedicado toda a sua vida, o seu apoio e o amor necessário para que possa dançar essa música; meu noivo: Juan. Meu eterno companheiro que chegou em perfeita harmonia nesta dança, me ensinando os novos passos da "sustentável leveza do ser".

Por fim, quero dedicar meu respeito, carinho e amor a cada aluno, colega, amigo, familiar, pois eu não teria a força ética, a vontade e o desejo de ir em busca dos meus propósitos de vida se não estivesse revestida e motivada pela consideração, respeito e oportunidades que me ofereceram.

novembro 11, 2009

COMPETIÇÃO> O caso Geisy: falso moralismo encobre competição feminina


Isabelle Anchieta[1]
O caso da estudante de turismo que foi verbalmente agredida por mais de 700 estudantes por usar um vestido curto na Universidade Bandeirantes de São Paulo (Uniban) é emblemático. Mas, para além das inquietantes respostas levantadas pela imprensa e por especialistas para explicar um fato tão estranho (na medida que ocorre em pleno Brasil do sec. XXI) há uma questão que passou inadvertida pelas discussões da sociedade. Qual? O fato de mulheres, colegas de Geisy na faculdade, terem iniciado as ofensas contra ela. As mulheres?! Sei que o tema é delicado, pois parece desviar a responsabilidade dos homens e da ideologia patriarcal e aparentar uma tentativa de culpabilizar as suas vítimas: as mulheres. Apesar de não menosprezar a presença da cultura machista no caso, gostaria de chamar a atenção a esse importante elemento pouco tratado na mídia: a competição entre as mulheres, o rancor entre elas.
A filósofa Simone de Beauvoir já denunciava em 1949 em seu livro “O segundo Sexo” que esse era um dos grandes empecilhos ao desenvolvimento feminino. Assim, ao invés de vitimá-las, Beauvoir culpava também as mulheres como co-responsáveis por sua subordinação. Em um trecho ela diz “os proletários dizem nós, os negros dizem nós, as mulheres – salvo em certos congressos que permanecem manifestações abstratas – não dizem nós. Isso porque não têm, como os proletários, uma solidariedade de interesses” (BEAUVOIR, 1949, p.13). Mas, não queremos, em contrapartida, reduzir a discussão entre encontrar as vítimas e vilões – o que seria um erro. Vale ampliar a questão e nos perguntar até que ponto as mulheres não estão sendo conduzidas por um sistema cultural, típico do capitalismo, que incentiva a competição? Especialmente a competição marcada pela busca de ser “a mais bela”?
Os concursos para escolher a próxima Top Model multiplicam-se; as revistas insistem em ranquear a mais sexy, a mais popular, a mais bem vestida; os programas de TV selecionam “feias” e “mal vestidas” para transformar sua estética e, supostamente, sua vida. A magreza, a juventude e a moda embalam e alimentam essa cultura social que promove uma competição destrutiva entre as mulheres. Uma competição emburrecedora na medida em que é alicerçada em um pilar extremamente limitador para a emancipação feminina: a beleza (enquanto sua única alternativa de ascensão social). Criou-se no país, assim como é o futebol para os meninos, a idéia de que a única via do feminino é a beleza – ora através de uma carreira como manequim, ora através de um marido afortunado. É por essa razão que a beleza alheia incomoda, ameaça, na medida em que retira da concorrente a sua suposta “única” alternativa de ter seu lugar ao sol.
Geisy foi julgada por um falso moralismo que traveste uma outra questão fundamental: a competição feminina. Basta retomar o caso através do relato de uma testemunha, colega de classe de Geisy, para comprovar tal hipótese. Paola Cristina Fernandes conta como tudo começou: “Cerca de 18 a 20 meninas invadiram o banheiro (onde estava Geisy). Pensei que fossem bater nela. Elas estavam incomodadas com o tamanho do vestido e uma delas chegou a oferecer um short para que Geisy cobrisse as pernas”. Mas, como explicar os outros quase 700 alunos que se aglomeraram, posteriormente, para agredir verbalmente a estudante? Freud explica (sem ironias). Há um texto que merece ser lido na íntegra chamado “Psicologia das massas e análise do eu” em que Freud retoma a reflexão de Le Bon para defender que os indivíduos são contagiados pelos fenômenos de aglomeração, de massa, e tendem a ter um comportamento agressivo e uma coragem que não teriam se estivessem a sós. Basta ver uma torcida de futebol ou uma gangue para explicar isso.
Portanto, insisto em defender que a compreensão do polêmico acontecimento, que repercutiu internacionalmente, não pode ser reduzida ao machismo e a moralidade. E, esta última, convenhamos, é uma explicação fácil e hipócrita em se tratando do Brasil, onde as alunas frequentam as aulas com roupas muito parecidas. O modo de vestir está inerente a cultura ocidental e especialmente brasileira de exibição do corpo, da competição estética, como tento destacar. Ser bela continua a ser a maior obrigação feminina, patrocinada agora pelas campanhas publicitárias, pela moda e pelo consumo. Uma busca pelo corpo impecável, pela bolsa invejável, pelo cabelo que brilha mais do que o das outras. Um sistema que cria, via beleza, mecanismos de controle e competição extremamente limitadores da experiência humana da mulher enquanto ser humano capaz de múltiplas experiências e transcendências. Não que eu faça aqui um discurso anticapitalista, pois foi ele o único sistema que avançou efetivamente na ruptura do feminino com suas antigas coerções (religiosas e patriarcais) através dos valores laicos e pela consolidação do imaginário social igualitário-democrático que preza pela cultura da meritocracia (ou seja, se você for bom, não importa o sexo, a cor e a etnia, você pode ascender socialmente). Claro, que não chegamos a um nível de igualdade minimamente aceitável, segundo dados da Revista Exame (2009), das 100 maiores empresas no país nenhuma possui mulheres na presidência. Mas, é fato também que avançamos, tanto que a mídia cumpriu, no caso de Geisy um importante papel ao posicionar-se contra a violência sofrida pela estudante – independente do encantamento ou não de Geisy por sua visibilidade midiática. Isso não desqualifica o ato e a violência, isso não a desqualifica, como querem alguns poucos, na medida em que o acontecimento transcende uma discussão particularizada e revela um os atrasos na emancipação feminina no Brasil.
Desejo, por fim, fazer com que essa reflexão não seja apenas um “puxão de orelha” para as mulheres, mas um chamado a sua consciência. Essa delicada e difícil auto-reflexão que nos leva a desvendar tanto os nossos monstros e limites, quanto a nossa cumplicidade com o sistema cultural alienante que nosso momento histórico nos condiciona. Pois, não podemos nos furtar de não considerar que somos co-responsáveis por alimentar esse sistema, e que podemos, sempre, não compactuar com ele. Não somos seres determinados, alienados, dada a nossa capacidade humana, sempre renovada, de desviar o olhar, de não se tornar objeto, de nos emancipar e de recriar a nossa cultura. Pois, essa crueldade feminina reverte-se mais cedo ou mais tarde contra cada uma de nós. Termino, a nossa reflexão, com uma pequena historinha de Brecht:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Ninguém se importou comigo.
(Bertolt Brecht, 1959)


[1] Isabelle Anchieta é jornalista e mestre pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em pesquisas sobre a mulher, suas imagens e imaginários, Isabelle desenvolveu a tese conhecida como “a quarta-mulher”. Recebeu prêmio nacional de Jornalismo pelo "Rumos Itaú Cultural" 2007/2008 como professora universitária. Tem dois livros publicados e artigos científicos internacionais e nacionais publicados em veículos como: Revista Mente e Cérebro (da Scientific American), Observatório da Imprensa; Comunique-se; jornal Estado de Minas; jornal Hoje em Dia entre outros. Como jornalista foi apresentadora e editora-chefe do Jornal da Rede Globo Minas e repórter de documentários pela Rede Minas.

setembro 23, 2009

Escrever: uma engenharia poética de unir e atravessar


Escrever é um duplo movimento que organiza o caos da experiência ao mesmo tempo que concede uma acentuação estética que ela (a experiência) não possuia antes de ser capturada pela linguagem humana. Unir e atravessar. Nessa delicada harmonia entre a razão e a poesia, lógica e filosofia que só o homem é capaz de realizar. Como as pontes, essa perigosa e necessária engenharia poética que equilibra o Oriente e o Ocidente, a esquerda e a direita, o próximo e o distante. Escrever é como construir pontes...

>>Estou com novo blog, que dedica-se a escrever sobre as cidades do mundo, "A poética das cidades", confiram: http://poeticadascidades.blogspot.com/

setembro 06, 2009

Professora concede entrevista de sua pesquisa na Rádio Itatiaia para o Observatório Feminino


'Observatório Feminino' - bloco jornalístico que vai ao ar todos os domingos durante o Jornal da Itatiaia destaca pesquisa da professora Isabelle Anchieta. Com um tom que aproxima a pesquisa da realidade das mulheres a entrevista contou com as jornalistas Maria Cláudia Santos, Mônica Miranda e Kátia Pereira (que compõem o quadro).

O programa vai ao ar hoje 6:30h ou 12:30h na rádio Itatiaia

http://www.itatiaia.com.br/

http://observatoriofeminino.blogspot.com/

junho 26, 2009

SAIA JUSTA> Isabelle Anchieta no Saia Justa (GNT)



Aconteceu! Não fico no sofá, rs, mas...concedi entrevista para o Saia Justa/GNT sobre a minha pesquisa "A quarta mulher". Estive em SP no dia 23 para gravar a reportagem. Ela será exibida no dia 15 de julho, quarta-feira, às 22h30, no canal 41, (GNT). Após a exibição , as "saias" (Monica Waldvogel, Betty Lago, Márcia Tiburi e Maitê Proença) discutirão o assunto. Confesso que será uma experiência ao mesmo tempo maravilhosa e estranha ter pesssoas tão interessantes avaliando a pesquisa. Uma mistura de receio e honra.
Confesso que não sei se o resultado da entrevista ficou bom. Não pelo pelo cinegrafista, os assistentes e pela produtora: ótimos, super simpáticos. Mas, pelo local: uma praça. Tivemos de regravar várias vezes porque havia muito barulho e interferências (crianças, helicóptero, manifestação, resumindo: SP). No final estava exaurida de tanto dizer a mesma coisa, não sei se ficou natural, mas, vamos ver o resultado...até eu estou curiosa.
Mas, para mim o que é mais surpreendente neste fato é uma curiosidade. Há 3 anos atrás, assistindo TV, vi uma colega do mestrado cencedendo uma entrevista na GNT para a Marília Gabriela sobre sua pesquisa que tratava de mães modernas. Achei surreal. Uma colega minha, tão próxima, falando de sua pesquisa na GNT. Aquilo produziu em mim um clique, pensei: tenho de descobrir algo que efetivamente goste para pesquisar, descobrir na minha história de vida esse tema central que desse conta, ao mesmo tempo, de ser relevante para todos. Na época não tinha tido ainda a idéia da análise de imagens e dos imaginários da mulher, o que aconteceu a partir do momento em que percebi a necessidade de me sondar, de encontrar minha "vontade de potência". Acho que encontrei. A pesquisa , além de ajudar as pessoas a compreender o papel da mulher, tem me ensinado muito, me concedido a clareza sobre o que é ser mulher. No entanto, sei que falta ainda muito trabalho para alcançar meus objetivos, mas o mais importante eu já tenho: o meu propósito. E, no meio do caminho, esses importantes sinais de que ele é significativo.

Para saber mais sobre a pesquisa acesse: http://quartamulher.blogspot.com/

O programa vai ao ar no dia 15 de julho, às 22h30, no canal 41 (GNT). Assistam e digam o que acharam,

Estou feliz.

junho 20, 2009

DIPLOMA JORNALISMO> Fim do diploma de Jornalismo: fim da liberdade de expressão mediada por comunicadores competentes, risco para democracia

Uma lastimável decisão do STF. O argumento: fraco. Dizer que a formação superior impede a liberdade de expressão é o mesmo que afirmar que a liberdade é algo sem limites, sem restrição, se o fosse não precisaríamos de leis, de STF. Garantir a qualidade da informação é garantir uma sociedade politizada e livre. Manter o controle sobre a base cognitiva do conhecimento que distingue a profissão nunca impediu a livre manifestação das pessoas, ao contrário. Pois, o jornalista é aquele que estabelece o debate social, como um juíz, dando as partes um tratamento imparcial - o que não acontece com os artigos opinativos de especialistas (que não apuram o fato para além da sua própria visão do assunto). Sem jornalistas estaríamos fadados a ter visões parciais e especializadas do mundo, incapazes de estabelecer um debate social mais amplo. Para essa importante função o jornalista precisa: de formação humanística, associada a tecnicas-éticas de produção de informação. O jornalista é aquele capaz de mediar, de tornar comunicável através de um conjunto de conhecimentos próprios os acontecimentos. Tentarei demonstrar, no artigo indicado abaixo, quais as razões que justificam não o fim das exigências, mas a sua consolidação e intensificação. O jornalismo é, sim, uma área de conhecimento específico que possui decisiva importância sobre as dinâmicas sociais em que está inserido. E, que, por isso, tem uma responsabilidade acrescida sobre a emancipação ou não dos sujeitos e da sociedade. E, como toda profissão que possui tal responsabilidade social, o jornalismo deve vir acompanhado de três elementos fundamentais: formação de qualidade, liberdade de expressão e limites ao exercício dessa liberdade. É nesse sentido que devemos nos empenhar em legitimar o lugar de um comunicador autorizado capaz de realizar as operações técnicas e éticas próprias a profissão e dignas de uma sociedade democrática. O caminho contrário, sua deslegitimação, parece servir apenas aos interesses de pessoas que favorecem-se da ignorância social e da despolitização dos cidadãos.

junho 06, 2009

Sobre encontros que transformam nossas vidas: o filósofo Gilles Lipovetsky e a pesquisadora Isabelle Anchieta em Belo Horizonte


Gilles Lipovetsky e Isabelle Anchieta (Inhotim, 06/2009)

"Há encontros em nossas vidas que a transformam completamente" a frase dita por Lipovetsky ilustra bem nosso encontro. Pensar que tudo começou através da leitura de uma de suas obras ...Naquele livro, que tratava sobre a mulher, me deparava com um grande filósofo contemporâneo e suas idéias que se materializavam e se limitavam, supostamente, ao livro que tinha em minhas mãos. Desse primeiro encontro virtual um conjunto de idéias irrompiam, sendo capazes de gerar a energia suficiente para a produção da minha própria pesquisa (que em parte contradiz algumas concepções de Lipovetsky). Do nascimento dela um conjunto de movimentos silenciosos se organizavam para gerar mais uma sequência de ações inesperadas. Fui selecionada para apresentar (com outros 10 pesquisadores internacionais) o meu trabalho "A Quarta Mulher" em Madri, em outubro de 2008. Quem estaria lá? Gilles Lipoetsky. Pois é, foi assim que ele, enfim, conheceu minha pesquisa e se interessou pela forma como conduzi e até contradisse suas perspectivas. Desse ponto uma intensa e rica interlocução se travava entre eu e Lipovetsky. Após quase um ano, foi a vez dele vir ao Brasil, em Belo Horizonte para a Compós (06/2009) e hospedou-se na casa de minha mãe. Digo isso, porque o convívio me ensinou novas e diferentes coisas. Aprendi que para pensar não temos de ser ranzinzas - ele não o é, é divertido, leve, brincalhão. Aprendi que "prazer é tempo": para tomar um café, fumar um cigarro, ler, ficar na varanda tomando o sol de outono e escutando bossa nova. Aprendi que pensar pode acontecer a dois e não só de forma solitária. Pois, todas as manhãs ia até lá e conversávamos longa e entusiasmadamente sobre a minha pesquisa. Me espantei com sua generosidade em me apresentar novas e ambiciosas questões. Quando chegava ele me dizia alegre: ontem a noite estava pensando sobre sua pesquisa e tive uma outra idéia...seguida de indicações de livros que não li. Traçamos, juntos, um plano de estudos para os próximos 4 anos da minha vida. Mas, o que pode parecer o adiamento do sonho é para mim sua consolidação. Um oceano apresenta-se desde então. Mas, estou excitada para começar essa viagem, em parte nova, mas em parte segura já que tenho, agora, um co-piloto que me oferece mapas e sugere a navegação.

Uma noite, em especial, me marcou. Voltávamos de um encontro com alunos do mestrado na PUC e ia deixá-lo na casa de minha mãe quando ele me perguntou se me importava, antes, de caminhar um pouco pelo bairro. Temi por nossa segurança, já era tarde, mas fui. Acho que há anos não fazia isso. Misturou-se nessa caminhada: a noite, o brilho de Belo Horizonte, um certo receio e o entusiasmo de nossas idéias. A cada cinco passos parávamos, um frente ao outro, para defendermos de forma acalourada as nossas perspectivas. Um desses momentos que se intensificam na mistura entre o ambiente e as idéias e que, assim, formam uma imagem definitiva em nossa memória.

Desse encontro com Lipovetsky fica um oceano de idéias e alguns mapas de navegação. Fica a vontade e o prazer de pensar, de ler. Fica a generosidade da troca, do embate, da filosofia. Ficam janelas abertas, fica o sol confortante de outono e mais: a certeza do propósito da vida e a experiência de que para produzir uma bela obra é preciso de encontros felizes e verdadeiros como esse.

maio 31, 2009

Gilles Lipovetsky chega hoje em Belo Horizonte

Gilles Lipovetsky e Isabelle Anchieta

Chega, hoje, em Belo Horizonte o filósofo francês Gilles Lipovetsky. O autor de A Era do Vazio, Império do Efêmero, Luxo Eterno, Felicidade Paradoxal, Tempos Hipermodernos, A Tela Global entre outros estará na capital mineira para participar da XVIII Compós (PUC Minas). O filósofo é também interlocutor da pesquisadora mineira Isabelle Anchieta e estará com ela durante uma semana para orientá-la em sua pesquisa: "A Quarta Mulher" em que trata a mudança da imagem da mulher ao longo da História.

>>>No segundo semestre a professora Isabelle Anchieta está organizando, junto a FIEMG, um Seminário que conta novamente com a presença do filósofo Gilles Lipovetsky. O evento será divulgado no blog em período próximo a data do evento.

maio 19, 2009

AMOR E COMUNICAÇÃO> Me dei conta do quanto o amor e a comunicação se combinam


Me dei conta do quanto o amor e a comunicação se combinam. Se há um e o outro falta, não há a possibilidade do encontro. Comunicar, aqui, não é transmitir um conteúdo, mas trocar. Pressupõe perder algo de si e ganhar algo do outro e vice-versa. Um campo de intercessão (como na matemática), onde algo se preserva, mas algo se perde, formando um terceiro plano, um plano comum. Para chegar nele é preciso perder-se para reencontrar-se nessa zona original, forjada por dois singulares. Constrõem um lócus único, temperado pelo entrelaçamento de duas histórias – reúnem-se ali vivências, pessoas, momentos e memórias. O amor é esse entre-lugar original.
No entanto, hoje as pessoas não querem comunicar, não aceitam perder algo de si para escutar e traduzir as singularidades do outro – por medo de colocarem em questão suas tão confortáveis verdades. Pois, sondar o outro é entrar em uma zona estrangeira, é aventurar-se em um território desconhecido. Muitos preferem confinar-se no conforto de suas supostas certezas a descobrir a dor e a delícia dessa terra encantada que o outro nos apresenta. As pessoas não querem trocar, querem apenas transmitir, unilateralmente, os seus desejos esperando que o outro se encaixe neles. Enunciam aos quatro ventos o que esperam de “uma mulher”, de “um homem”. Quanta bobagem! (se me permitem o desabafo). São essas abstrações simplórias - geralmente recheadas de preconceitos e idealizações sobre o que é uma "boa mulher" ou um "bom homem" - que reduzem a diversidade de todos singulares em generalizações unidimensionais, pobres! São pessoas que trazem uma roupa pronta e querem que o outro caiba naquelas medidas. Mas, o outro nunca cabe (e, que bom!). Porque o outro é sempre sem medida. Porque o outro escapa pelo chamado dos seus próprios desejos. Aprisioná-los é a forma mais rápida de matar o amor, a comunicação, o encontro.
Eis aqui uma exigência do amor: a comunicação. No que tem de entrega, troca e respeito ao desejo do outro.
Por isso, hoje me dei conta do quanto o amor e a comunicação se combinam....
E, como não poderia deixar de lembrar do meu amigo e interlocutor de minhas inquietações...
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"Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: "Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?". Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar" (Nietzsche)
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maio 15, 2009

Maitê Proença repercute pesquisa "A Quarta Mulher" da professora Isabelle Anchieta

Maitê Proença e Isabelle Anchieta 

Ontem estive em um debate com a atriz e escritora Maitê Proença. O tema: amor. Mas, para a minha grata surpresa Maitê fez questão de repercutir a pesquisa que desenvolvo sobre as imagens da mulher "A Quarta Mulher" .  Ela lembrou as fases e afirmou que acredita que estamos caminhando mesmo para aquela que defino como a quarta mulher. Uma mulher que está mais preocupada com ser, afrouxando as cobranças, as representações e os estereótipos e que pode, enfim, estabelecer uma relação verdadeira com a vida e com um homem. Ao fim, em conversa informal, ela disse que teve acesso a pesquisa através da jornalista Mônica Waldvogel que esteve comigo em Belo Horizonte para debater a pesquisa no mês de abril (24/04). Nossa! Ontem não dormi direito. Ainda é  surreal pensar os caminhos que a pesquisa está ganhando, a vida e a forma como pessoas interessantes estão se apropriando da discussão. Divido aqui esta felicidade da qual já toquei em postagem anterior: a do amor aos nossos propósitos. E, falando em amor....esse foi o nosso tema ontem.  Na fala de Maitê o amor tem um quê de destemor, de entrega. Dá-se em um tempo necessário de decantação e não pode acontecer em um contexto onde a velocidade atinge todas as esferas sociais (o cinema, a forma de comer, de andar e etc). O amor tem relação com o tempo, não o tempo social, mas o tempo do amor. O amor também aciona os sinos de todas as catedrais, pode nos conduzir a experiência do sublime, mas contém  o sofrimento, a dor. Estar disposto a ele é sua condição, sem pensar em suas consequencias, no seu fim. Uma entrega que pressupõe a queda das máscaras, das represetações e a emergência do humano e de suas contradições. Exige, por isso, mais do que um sentimento forte, mas a compreensão do outro, dos seus desejos, das suas demandas. Em uma de suas crônicas," Amor da minha vida" (a que mais gosto, por sinal) ela sintetiza isso, lindamente, e diz: "Não basta que haja amor para se viver um amor. (...) É preciso me traduzir a cada centímetro do caminho". 


Obs >> Só está faltando eu no Saia Justa (rs, tô brincando...)

maio 10, 2009

Maitê Proença e Isabelle Anchieta discutem Amor e Vida na Academia de Idéias




Quais são os movimentos que movem a humanidade? Ética, amor, fé? No dia 14 de maio a jornalista Isabelle Anchieta e a atriz e escritora Maitê Proença se encontram para discutir a importância do amor em nossas vidas. O amor por nossos ideiais, pelos outros, pelo amante, pela família, pelo conhecimento....Amar é o que dá sentido e força a tudo o que fazemos.

O debate acontece na Academia de Idéias, às 19:30h

Ou ligue>3281-7750

maio 05, 2009

Arrancar a vida


Essa violência necessária. A de arrancar da vida: a vida. Nada de esperar. Não há milagre, dádiva, reza. Chega de ilusões! Mentiras. A vida é de natureza subterrânea, seu alimento se esconde como uma raiz repleta de virtudes que se alimenta no escuro, no solo. Para tê-la é preciso força, desejo e coragem de tomá-la violentamente nas mãos. Arrancá-la e trazê-la a nós. A vida! Ela não é feita de descanso, de paz. Nada de monges que se escondem em sua “paz” tibetana. Escapismo. A vida não pede refúgio. Pede coragem para o sofrimento e a dor necessária. O que simultaneamente nos concede a delícia e o prazer das alegrias e das belezas na experiência. A vida é feita de guerra e de celebração. É luta! Luta para sobreviver a mentira, a falsidade, a falta de caráter, ao comodismo, ao caminho mais fácil e tentador. A zona de conforto, diga-se de passagem, é a mais perigosa. Castra. Inibe. Acalma a vontade, o desejo e retira a nossa maior potência – a da nossa incompletude. Essa falta humana, esse vazio que nos aciona. A alma precisa de estímulos, de propósitos. Confortar-se é retirar o movimento que nos empurra violentamente a diante. Como diria meu amigo Nietzsche “quem pega o atalho perde o caminho”. E, só há um caminho, nele devemos preservar o que somos com dignidade humana. Respeitar o outro sem perder de vista o desejo pessoal. É manter os olhos alertas. A consciência afiada. A verdade em punho, com sua dor e beleza.

Viver. Arrancar. Lutar. Celebrar, na dor, no prazer. Humano, demasiado.

abril 25, 2009

Mônica Waldvogel e Isabelle Anchieta debatem a pesquisa "A Quarta Mulher"


Mônica Waldvogel e Isabelle Anchieta

Tive o privilégio, ontem (24/04/09), de ter minha pesquisa sobre as imagens da mulher (A Quarta Mulher) como alvo do olhar e da análise precisa e inteligente de uma das jornalistas mais importantes do país, Mônica Waldvogel. Mônica destacou a importância e a urgência de se discutir o tema, pois julga atrasada a crítica da mídia e do gênero no Brasil se comparado a outros países. Ao entrar nas questões levantadas pela pesquisa, Mônica enfatizou que as pessoas cometem um erro ao dizer "homem de hoje e mulher de hoje, colocando plural onde não precisa (homens) e singular onde é impossível (mulher)". 
O debate, que se estendeu por mais de uma hora, contou com a participação de quarenta pessoas no espaço da Academia de Idéias, em Belo Horizonte. Em um clima descontraído interagimos com os participantes, que, diga-se de passagem, eram pessoas interessantíssimas, que contribuíram para construir um momento rico e raro na compreensão da imagem da mulher.
Ontem foi, realmente, um grande momento: pela simpatia e inteligência da Mônica (características marcadas por suas considerações sensataz e ricas) e pela curiosidade dos convidados sobre a jornalista e sobre a pesquisa. Destes momentos que funcionam como catalizadores em nossas vidas, nos animam a prosseguir, a acreditar no passo para frente e na obstinada vontade de realizar algo significativo (mesmo que isso se dê a duras penas, e como!).
Foi um dia revelador.
A cada dia e acontecimento como esse confio no significado e na importância social da minha pesquisa. E, quanto mais percebo que a pesquisa pode contribuir para que as mulheres e os homens compreendam os significados das imagens e de suas experiências concretas no mundo, mais sinto realizar-se o propósito de minha vida. Hoje sei que essa pesquisa é o meu propósito e se ela adquire um sentido maior do que o meu interesse pelo assunto, isso potencializa ainda mais a minha realização pessoal. Estou feliz, me sinto útil.
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"Essa é a verdadeira alegria na vida, ser útil a um objetivo que você reconhece como grande" George Bernard Shaw
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>>JORNAL O TEMPO: O encontro foi repercutido em vídeo e texto pelo site do Jornal "O Tempo" clique aqui para ver
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março 30, 2009

Agradecimento pela reportagem no site da Newton Paiva

Agradeço o reconhecimento do meu trabalho pelo Centro Universitário Newton Paiva pela atenciosa e significativa reportagem de Jefferson Delben sobre minha trajetória profissional no site da instituição. Disponível em: http://www.newtonpaiva.br/Acontecenanewton/news.aspx?newsid=223601

março 24, 2009

Mônica Waldvogel discute a pesquisa "A Quarta Mulher" com a autora Isabelle Anchieta na Academia de Idéias


A jornalista Mônica Waldvogel _ apresentadora do Saia Justa, na GNT e da Globo News _ virá a Belo Horizonte para participar de debate sobre uma pesquisa que trata da imagem midiática da mulher no sec. XXI, desenvolvida pela professora mineira Isabelle Anchieta. Tal debate será realizado durante um curso ministrado pela professora no mês de abril na Academia de Idéias. Isabelle irá problematizar as quatro gerações de imagens e imaginários produzidos sobre a mulher ao longo da História. Ela passa de Grande Mãe, Eva, Maria, Afrodite, Pin-Up, Manequim até chegar à quarta geração de imagens denominada de "mulher real e possível", nas imagens publicitárias do séc. XXI. A imagem da mulher transforma-se gradativamente na medida em que aproxima-se dos dilemas da mulher comum, da mulher "qualquer". É nessa passagem, promovida em grande parte pela relação entre a mulher e a mídia em sua reivindicação por reconhecimento social amplo, que percebemos uma possibilidade inédita de emancipação da imagem feminina.

7/4
Primeira e Segunda Mulher: imagem temida a uma imagem idealizada, Isabelle Anchieta
14/4
Terceira mulher: a emanc. paradoxal da mulher através da moda e do corpo magro., Isabelle Anchieta
24/4
O papel da mídia na emancipação da mulher, MÔNICA WALDVOGEL
24/4
O papel da mídia na emancipação da mulher, Isabelle Anchieta
28/4
Quarta Mulher: a mulher real e possível nas imagens publicitárias do séc. XXI, Isabelle Anchieta

>mais informações pelo telefone: 3281-7750 ou acesse: http://www.academiadeideias.com/

março 04, 2009

Professora dará entrevistas na Rede Minas e na TV Assembléia sobre a imagem da mulher na mídia




> Professora participa do programa Sala de Imprensa da TV Assembéia, para debater sua pesquisa "A Quarta Mulher".

O programa vai ao ar na quinta dia 12/03, 21 horas.

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Horários alternativos:

sexta - 12h15 e 0h10

sábado - 21 horas

domingo - 18 horas


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> Professora também concedeu entrevista sobre sua pesquisa no Jornal Minas 1º edição, apresentado pela jornalista Sandra Gomes, no dia 06/03 ao 12:00h, na Rede Minas.

março 03, 2009

Diploma em debate: jornalismo de qualidade em sociedade democrática

Em um contexto em que se discute o fim da necessidade da formação superior do jornalista venho aqui fazer o caminho inverso. Tentarei demonstrar quais as razões que justificam não o fim das exigências, mas a sua consolidação e intensificação. O jornalismo é, sim, uma área de conhecimento específico que possui decisiva importância sobre as dinâmicas sociais em que está inserido. Por isso, tem uma responsabilidade acrescida sobre a emancipação ou não dos sujeitos e da sociedade. E, como toda profissão que possui tal responsabilidade social, o jornalismo deve vir acompanhado de três elementos fundamentais: formação de qualidade, liberdade de expressão e limites ao exercício dessa liberdade. É nesse sentido que devemos nos empenhar em legitimar o lugar de um comunicador autorizado capaz de realizar as operações técnicas e éticas próprias à profissão e dignas de uma sociedade democrática. O caminho contrário, a sua deslegitimação, parece servir apenas aos interesses de pessoas que se favorecem da ignorância social e da despolitização dos cidadãos.
>>O artigo completo está disponível no site do Observatório da Imprensa:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=527DAC001
>> Ou no site do Sindicatos dos Jornalistas de Minas Gerais

março 02, 2009

Prêmio "Rumos Itáu Cultural" abre inscrições para estudantes e profissionais

O Itaú Cultural lança os novos editais do programa Rumos. São eles: Arte Cibernética; Cinema e Vídeo; Dança; e Jornalismo Cultural. Todos abrem as inscrições no dia 4 de março e, com exceção de Jornalismo Cultural (que encerram no dia 31 de julho), vão até 29 de maio. A seleção dos projetos será feita por comissões autônomas formadas por especialistas nas áreas contempladas e um representante do Itaú Cultural. Os resultados serão divulgados no segundo semestre de 2009. Em todos os casos, a divulgação será feita por meio da imprensa e do site da instituição www.itaucultural.org.br/rumos, onde se encontram todos os quatro editais e por meio do qual deve se fazer a inscrição gratuita.

março 01, 2009

Sobre a Transitoriedade


"É impossível que toda essa beleza da Natureza e da Arte, do mundo de nossas sensações e do mundo externo, realmente venha a se desfazer em nada. Seria por demais insensato, por demais pretensioso acreditar nisso. De uma maneira ou de outra essa beleza deve ser capaz de persistir e de escapar a todos os poderes de destruição. Pois, um flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela. É nesse sentido que "o valor de toda essa beleza e perfeição é determinado somente por sua significação para nossa própria vida emocional, não precisa sobreviver a nós, independendo, portanto, da duração absoluta. O que implica dizer que "o valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo". Na medida em que a consciência da "limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição"
(...) "Assim, quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito em que tínhamos das riquezas nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que se destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura do que antes. "

O trecho acima é parte de um ensaio intitulado "Sobre a Transitoriedade" escrito por Freud em novembro de 1915, a convite da Berliner Goetherbund (Sociedade Goethe de Berlim) para um volume comemorativo lançado no ano seguinte sob o título de Das Land Goethes (O País de Goethe).

fevereiro 26, 2009

O corte no tempo

"Uma alegoria do Tempo desvelando a Verdade"
de Jean-François de Troy (1679-1752)

Acreditava que já havia passado por muitas perdas e muitos testes. Já havia enfrentado a fome. O desalento. A solidão. A superação profissional. A superação física. Doenças graves. A ausência de um apoio afetivo, familiar. A inveja. A injustiça. A maldade. Tudo. E, todas essas coisas não foram capazes de me deter. Ao contrário, mostravam o quanto havia em mim uma força infinita, capaz de ressurreições e de uma vontade de vida pulsante, vontade de potência, de uma segunda infância. Por essas razões, sempre me julguei capaz de enfrentar qualquer medo, qualquer coisa. Mas, agora.... Enfrento minha pior e mais grave fragilidade. Pois, foi justo quando a alma serenou e o amor incondicional tomou conta de mim; justo quando estava em paz em companhia do sentimento mais sublime e puro que se possa compartilhar, que minha alma partiu-se ao meio. Quando não estava com as armas em punho, nem a armadura no corpo para esse golpe. Tudo em mim oferecia-se nessa cumplicidade amiga, nessa segurança eterna...Mas, o eterno, como “o terno eterno” de nossa alma, não existe. A alma é feita para as batalhas, mas percebi que nem sempre estamos prontos para elas.
Não poderia imaginar que a segurança que me acompanhava há anos, um pedaço de mim, pudesse _ em um corte _ ser amputado, separado. Está. É fato. A morte é um corte no tempo que nos separa em instantes da companhia tão amada, tão viva...Agora, é fato. O corte no tempo se impõe. Há segundos, agora horas, agora semanas que me separam aos poucos. De castigo: essa solidão silenciosa, fatal. Vivo todos os sentimentos: ora raiva, melancolia, saudade, alívio, tristeza, confusão, revolta, cansaço. Não sabia como eles poderiam se alternar com tanta velocidade....Enfrento, ainda sem saber como sair, o meu mais grave sentimento, minha mais exigente superação,


fevereiro 16, 2009

Pedaço de mim

A primeira vez que entendi o significado da perda, da morte foi quando uma professora de português, chamada Regina, levou para a sala um som e colocou uma música para tocar. A fita velha, o som baixo, chiado, uniu-se a profundidade do que era dito. Senti a perda, mesmo que ainda não tivesse vivenciado nenhuma. Ontem essa música tocou dentro de mim novamente, agora não foi preciso imaginar a perda. O dia mais triste da minha vida. "Oh pedaço de mim, o metade amputada de mim, leva os teus sinais que saudade é o pior castigo".

"Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que morreu

Oh, pedaço de
mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma
fisgada
No membro que perdi

Oh, pedaço de
mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus"

(Chico Buarque)