junho 27, 2007

Hoje eu vou cantar um samba sobre o infinito

Foto: Pedro David


Infinito. Há nele uma grandeza de imprecisão. De natureza imaterial, o infinito nos encanta pela incompletude, pelo inacabado e pelo que promete sem nos dar. Para Guimarães Rosa (que hoje faz aniversário, completaria 99 anos) seria esse atravessar o sentido da vida, que não se justifica nem pela saída nem pela chegada, mas pela travessia. Para F.Nietzsche a vida seria uma ponte entre o animal e o além do homem. Para Freud o desejo (esse que não pode ser saciado). O incompleto, o insatisfeito justifica o movimento contínuo da busca, da ação, do entusiasmo. Ao invés da angústia de nunca ter, a falta é o que produz a beleza, a força da luta. E, que luta!! Mas, o que seríamos sem ela, se na verdade é esse espírito aguerrido que justifica grande parte do que nos dignifica e nos fortalece (as mais significativas histórias são repletas de grandes e bons combates, que o diga Júlio César, como lembraria meu querido Caporali). Porque, no fundo, "o que não mata fortalece" (F.N, ECCH)
O infinito renova-se, renasce, brota de si. Multiplica-se até que nosso olhar se perca e não o alcance mais. Só um samba conseguiria cantar o infinito, com uma letra triste e ao mesmo tempo alegre. Em uma contradição não contraditória. Só quem sofreu de verdade sabe entender o samba. Já ouço tocar meu favorito:
(Wilson Moreira e Nei Lopes)

"Abre as asas sobre mim, Oh! Senhora liberdade. Eu fui condenado/ sem merecimento/ por um sentimento/ por uma paixão/Violenta emoção/ Pois amar foi meu delito/ Mas, foi um sonho tão bonito que chegou ao fim/ Senhora liberdade abre as asas sobre mim/Não vou passar por inocente/ Mas, já sofri terrivelmente/ Por caridade/oh liberdade/ Abre as asas sobre mim"

Voltemos ao infinito, ou melhor, nunca saímos dele - em seu eterno retorno, no constante empurrar a pedra ao pé da montanha e empurrá-la novamente, buscando nessa banalidade a revelação que vem do absurdo (Camus).
E, por fim, ou pelo início
, eu pediria para tocar:

"Deixe-me ir, preciso andar/Vou por aí a procurar/Rir pra não chorar/ Quero assistir ao sol nascer/Ver as águas dos rios correr/Ouvir os pássaros cantar/Eu quero nascer, quero viver/Deixe-me ir preciso andar/Vou por aí a procurar/Rir pra não chorar/Se alguém por mim perguntar/Diga que eu só vou voltar/Quando eu me encontrar"
Candeia*
* o samba é creditado, geralmente, a Cartola (eu mesmo o fiz no blog). Graças a participação de um aluno, Renato Vieria, descobri que o samba é de Candeia. Além dessa informação, há outras curiosidades, como o fato de que "Candeia, além de sambista, era um policial lendário nos morros do Rio, mas acabou levando um tiro na espinha e ficou paraplégico, isso ainda nos anos 60. Porém, graças a Clarinha Nunes, ele conseguiu ter um certo sucesso e gravar 2 Lps. Mesmo assim, nunca ganhou dinheiro com música e acabou morrendo pobre no fim dos anos 70" segundo Renato.

Dicas para "cabeças bem feitas"


Para não perder o que acontece em MG:
http://www.cultura.mg.gov.br/


Revelações de Minas na música:

junho 24, 2007

"O homem mais forte que há no mundo é o que está mais só"


O dramaturgo escandinavo Henrik Ibsen sentencia com essa frase a sina dos homens "presos" a condição de serem livres. Livres de qualquer dogma; norma e de todo o tipo de coerção e poder. Um espírito livre, movido pelo que possue de mais sublime. Age por um amor incondicional à vida no que ela possui de mais banal e transcendente (e nas passagens de uma forma a outra). Admira com espanto seus pensamentos e ama homens e mulheres com convicções e coragem - por mais diferentes que sejam das suas, desde que autenticas, pulsantes.
Trata-se de um homem condenado a incompreensão. Será expulso, pois suas palavras incomodam a ordem vigente. Será humilhado, pois sua voz toca zonas esquecidas e que querem ser esquecidas. A verdade ecoa em seus pulmões. Solidão. É obrigado a ter apenas sua companhia "preso" a seu espírito livre. Vaga. Mas, feliz, com uma força que nenhum outro seria capaz de experimentar. Esses, que protegem-se da chuva, dos trovões. Ele, ao contrário dança. Cada trovão alimenta sua alma sedenta de energia. Rodopia com os sons que ora imagina para se combinar aos seus movimentos. Em um silêncio cheio de ritmo e batidas ele é capaz de sentir o corpo, a leveza, a força: unidas. Nada poderá fazer com que ele perca o passo, nem os tombos que por ora o fazem sofrer. Eis, que a tristeza inspira um poema. Eis que sua dor o dá gana para denunciar os hipócritas, os fracos, os covardes. Para eles não haverá piedade. Eis a força dessa voz doce e forte de uma verdade amorosa e libertadora.

Isabelle Anchieta

junho 20, 2007

Iniciar é sempre dispor-se ao trágico




Um diário público. Eis aqui a realização de um desejo que todos temos: o de sermos reconhecidos pelo que temos de mais verdadeiro e humano. E, o diário serve a isso. Nele compartilhamos as nossas limitações e com elas revelamos também a nossa força. Eis aqui a minha intenção ao compartilhar essa "identidade coletiva". A intenção a que Tizetan Todorov já anunciava: a de que a vida é o reconhecimento social e que a configuração do que somos só se dá no embate com outros: os próximos e os distantes. Em que "ser e aparecer" coicidem (Arendt). Espero que esse seja um espaço flúido, capaz de absorver os movimentos próprios da vida e do conhecimento. Espero que possa encontrar aqui um local de fala e de interlocução; de idéias e de dúvidas. Eis que nos deparamos conosco, com o que temos de humano, demasiado.