novembro 25, 2008

Qual o tempo necessário para tornar-se uma pessoa genial?

Dez anos. Essa é a conclusão da pesquisa do inglês Malcolm Gladwell em seu recente livro Outliers (Ed:Sextante) que chega ao Brasil em dezembro. Sua maior curiosidade era a de entender porque algumas pessoas fazem sucesso, são reconhecidas e outras não. No livro demonstra que todos os grandes gênios (como Bill Gates; Einstein; Pelé; Machado de Assis; Obama e Madona) levaram cerca de 10 anos para serem o que são. “O que são dez anos? Bem, é mais ou menos o que se leva para obter 10 mil horas de prática (cerca de 20 horas semanais). Dez mil horas é o número mágico da grandeza”.
Para ilustrar diz que Bill Gates só se tornou um milionário aos 20 anos porque aos 13 foi estudar em uma escola privada de Seattle em que havia um raríssimo terminal de computador. Aos 16 passava 30 horas por semana escrevendo seus próprios programas. Quando fundou a Microsoft tinha 10 mil horas de treino de programação.
Os Beatles, tinham mais de 1.200 apresentações antes de se tornarem um sucesso. Einsten aos 16 anos já era obcecado pela natureza da luz. Interessava-se apenas por física, matemática, filosofia e violino. “Tudo o mais era tédio”, afirmava. E sempre perguntava a quem conhecia: “O que é a luz?”. A questão central de sua vida o levou aos 26 anos a conceber a teoria da relatividade, tornando-se a maior referência mundial quando o assunto era a luz.
Madona continua a fazer sucesso aos 50 anos. Isso porque a cada ano “inventa um rosto, um estilo e uma música diferentes. Além da intuição e marketing, trabalho duro. Para a excursão mundial deste ano, se preparou com oito horas de dança por dia. Quem faz isso? Resultado: tem nove prêmios Grammy, dois Oscars vendeu 280 milhões de discos e sua fortuna está estimada em US$ 1 bilhão e é a artista mais bem sucedida do mundo. Não é acidente”.
Mas, você pode indagar: quem tem condições de se dedicar 20 horas semanais a um projeto que lhe é caro? O autor responde que há, realmente, uma série de fatores que devem somar-se para a produção de um grande gênio. Ou seja “se não houver um entorno protetor e uma situação adequada, mesmo a pessoa mais genial pode ser tragada pela vida sem deixar vestígios”. Machado de Assis, por exemplo, era apaixonado por livros, quase foi demitido de seu cargo na Imprensa Nacional, por não parar de ler. Contou, para isso com a apoio da esposa Carolina, uma mulher compreensiva ao emprenho do marido à literatura. Pelé por sua vez contou com o incentivo do pai, centroavante profissional, para que desde cedo aperfeiçoasse a técnica e treinasse mais do que todos os seus colegas.
Bill Gates formou-se em caras escolas financiadas pelo pai, o mesmo aconteceu com Einstein, filho de um industrial e que teve amplo acesso à melhor educação européia. Moral da história: Ninguém _nem o astro de rock, nem o atleta profissional, nem o bilionário do software, nem o gênio, chega lá sozinho”, segundo Gladwell.

>>>O que as pessoas geniais nos ensinam:
1) Não existe sucesso sem trabalho duro, por toda a vida,
2) O entorno é fundamental. Não existe sucesso sem apoio de um companheiro, da família ou de uma comunidade,
3) A adversidade na infância ou a noção de valor aprendida com pais austeros é presença constante na história de pessoas de sucesso. Mimados, ao que parece, não vão longe,
4) A prática que produz a excelência leva tempo. Antes de aparecer para o público a pessoa passa anos no anonimato, construindo,
5) Tenacidade. Pessoas que não se abatem com facilidade. Distinguem-se por seguir em frente apesar das (inevitáveis) decepções,
6) Conte com a sorte,
(Utilizei para a postagem informações da reportagem de Ivan Martins "O Doutor Sucesso", Revista Época, 24 nov. 2008. Comentário sobre a reportagem> Ao ler a reportagem tive a impressão contrária a destacada na capa da revista em que havia a valorização do fator "sorte" quando na verdade a reportagem apontava no caminho contrário. As 10 mil horas, ou as 20 horas de dedicação semanais em um projeto ou idéia revelam que há um investimento de longo prazo na conquista do reconhecimento social. Outro elemento instigante da pesquisa do inglês está em identificar que há um elemento obscurecido pela idéia de que o sucesso está no talento individual ou na sorte: o entorno. Ou seja, se a pessoa não tiver o apoio do companheiro, as condições necessárias para estudar (ora promovidas pela família, ora por políticas públicas de acesso) não há como ter sucesso. O sucesso é uma construção coletiva e uma aposta que depende também de uma obstinada vontade de seguir quando tudo aponta na direção contrária).

novembro 14, 2008

A cidade horizontal...

A cidade mais sonhada e etérea promete uma vida, sem entregá-la totalmente. Ela é tudo o que parece ser: há luzes que encantam nossos pequenos olhos e construções realizadas com uma única função: a de nos espantar ora pelos detalhes, ora pela grandiosidade. Mas, essa cidade não pode ser explicada por suas construções e pelas artes que concentra...como poderei te explicar?! Vou tentar...
Lá os prédios modestos recusam-se a tampar o céu, deixando esse espaço vazio, tão necessário para a alma. Em quase todos os apartamentos há cortinas de vuol branco que, sensualmente, acompanham o vento, desvelando os móveis, os quadros, lustres e a vida que se vive. Nas pequenas sacadas os moradores cultivam flores vermelhas (gerânios) que preencheem nosso caminhar banal pela cidade de leveza, distração e olhares ao alto. Uma cidade em que pão e flores possuem o mesmo status: necessários.
Uma moça anda lentamente de bicicleta na calçada. Suas pernas giram nesse pequeno esforço. No cesto leva várias cartas em envelopes caprichosos e coloridos. Imagino agora a letra, as palavras e a afetividade que só uma carta a mão poderia trazer. Agora ela atravessa a calçada, tomba a bicicleta em um poste e dirigi-se a uma feirinha de frutas, flores e queijos. A cena, agora a distância, mistura-se ao conjunto de prédios, pessoas e cores. Uma promessa de vida...
Os corredores radiais nos apresentam um “leque” de ruas para nos perder. E perder-se nessa cidade significa encontrar uma pequena loja de antiguidades, uma floricultura, um pequeno restaurante ou ainda ter de se desviar das charmosas mesinhas de um Café espalhadas na calçada. Há também sorveterias em que as bolas não são arremessadas agressivamente na casquinha, mas montadas com uma espátula a fim de formar, pétala a pétala, uma flor. Lá aprendi que bola de sorvete não tem que ser redonda...rs. Isso me fez perceber que nessa cidade nada é prático, nada combina com uma vida "fast food". Tudo dá trabalho, mas é esse trabalho que concede a todas as coisas corriqueiras uma aura. Como se o ritual de preparação delas fosse também a condição necessária de sua densidade sensível.
Assim, como explicar essa cidade em que o dia demora a raiar e há praças e esculturas que provocam uma sensação paradoxal: a de sermos pequenos e grandes. A primeira vista nos sentimos reduzidos diante de tantas construções e histórias memoráveis. Mas, em seguida, a cidade generosamente nos acolhe. Não que o faça por sua verticalidade amedrontadora, mas em seu horizonte impreciso, no que promete sem nunca dar. No que deixa incompleto, a brecha para o desejo. Abre para nós, no raiar tardio e inevitável desse horizonte, a possibilidade também de sermos grandes...

novembro 04, 2008

O piloto "Laboratório de Moda Brasil" é finalista no Festival Internacional de TV

O piloto Laboratório de Moda Brasil ficou entre os 7 finalistas finalista do IV Festival Internacional de Televisão 2008, na categoria entretenimento, concorrendo com 130 pilotos de todo o Brasil. O projeto idealizado por mim e pela designer Adrienne Rabelo (minha mãe) foi adaptado para ser uma série para a TV em parceria com a produtora de vídeo Cara de Cão/BHZ, com direção de Alfredo Alves.
A idéia do programa é ter as cidades brasileiras e seu multiculturalismo como inspiração para o processo de criação de moda. A cada programa, alunos de design (que serão selecionados em todo o país) serão desafiados a criar uma roupa a partir da iconografia de uma cidade ou região nacional. A proposta da série é eleger a cultura brasileira como fonte de inspiração para a criação da moda
Para saber mais sobre Lab.Moda Brasil aqui
Para saber mais sobre os finalistas aqui

Para saber mais sobre o Festival Internacional de Televisão 2008 aqui

novembro 02, 2008

Projeto Laboratório de Moda Brasil - CIM 2008, Madri/Espanha


> RESUMO DA PALESTRA sobre o projeto Laboratório de Moda Brasil no 1º Congresso Internacional de Moda, Madri, 23/10/2008. (O projeto ficou entre as 10 pesquisas internacionais selecionadas para apresentação oral dentro da programação oficial do evento representando o Brasil ao lado da Itália, França, Espanha, Portugal entre outros países).

Autoras:
Isabelle Anchieta de Melo
Adrienne Rabelo Anchieta

O projeto Laboratório de Moda é uma proposta de metodologia para o processo de criação de moda que tem as cidades brasileiras e seu multiculturalismo como inspiração. Assim, a partir da iconografia de uma cidade ou região nacional uma coleção de roupas poderá ser criada. A proposta, como o próprio nome antecipa, quer fazer do Brasil um laboratório para a criação de moda. Experimentar formas, cores, texturas e temas particulares da cultura brasileira para o universo da moda é o seu objetivo.
A metodologia é fruto da parceria entre a estudiosa e designer Adrienne Rabelo e a pesquisadora e mestre em comunicação Isabelle Anchieta, que utilizou com o aporte teórico a reflexão do historiador de arte Erwin Panofsky.
Assim, para realizar a tradução das formas da arquitetura; natureza; arte; artesanato; costumes que compõem as cidades brasileiras para o universo da moda nos apropriamos da análise de imagens idealizada por Panofsky. Pensada originalmente para a análise de obras de arte, a metodologia revelou-se rica e pertinente também para o processo de criação em moda.
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PARA ENTENDER MELHOR ACOMPANHE OS SLIDES

Obs. 1> A animação acima foi criada pela brasileira que integra a equipe do museu do Traje, Angélica Santos. Ela documentou a apresentação e a divulgou em seu blog (mi-cajon.blogspot.com). Vale a pena visitar o blog da Angélica que, com colaboração de outros "cariocas espalhados pelo mundo", dá dicas generosas e singulares da moda e dos modos de vida na Europa.

oBS 2> O projeto "Laboratório de Moda Brasil" foi tb adapdato para se tornar uma série para a TV. Gravamos durante 2007/2008 um piloto que envolveu a participação de 11 estudantes de design, uma produtora de vídeo - Cara de Cão/BHZ - com direção de Alfredo Alves. Estamos negociando sua exibição com algumas emissoras, que sabe, em breve, o programa irá ao ar...

A função humanizadora da Moda - CIM 2008


> RESUMO DA PALESTRA DE ALFREDO CRUZ NO 1º CONGRESSO INTERNACIONAL DE MODA, em 23/10/08, Madri


ALFREDO CRUZ (filósofo espanhol)

“A moda expressa algo que o corpo não pode expressar”, com essa frase o filósofo espanhol Alfredo Cruz, expôs uma das mais interessantes palestras do Primeiro Congresso Internacional de Moda. Para ele a moda não deve ser vista como algo frívolo, mas entendida como elemento cultural que expressa valores humanos. A moda promove o valor do nosso estar no mundo (que não é somente físico, mas ao nosso modo de estar singular); do personar-se. E, para que tenha valor real, valor cultural a moda deve estar ligada ao viver, as vivências reais.
O contrário, a moda despótica não é senão a expressão de si mesma, que não nos permite dizer nada sobre nós, sobre a nossa presença no mundo e nesse sentido deixa de ser um acontecimento humano. A moda em seu sentido mais forte deve oferecer os recursos lingüísticos que permitam a nossa expressão pessoal.
Contrapondo-se a moda despótica o filósofo recorre ao mito de Narciso. Para ele se a moda olhar apenas para si mesma ela irá morrer; para que seja humana terá de olhar para o mundo e para o vivido. Critica o narcisimo tanto econômico como do processo de criação da moda (especialmente dos criadores fechados em seu mundo). Mas, aletra também para o perigo de entender a moda ética como uma moda a serviço de... A moda a serviço da paz, da pobreza, da política, da consciência. Para ele isso não é uma moda ética, já que ela torna-se um instrumento de uma causa que lhe é externa. A moda não deve servir a causas que lhe são exteriores já que a ética da moda reside em si mesma. O cultivo da moda, no sentido cultural é fundamental para a transcendência humana: a moda é algo verdadeiramente humano.

A moda e o luxo na era Hipermoderna - CIM 2008


>RESUMO DA PALESTRA DE LIPOVESTKY NO 1º CONGRESSO INTERNACIONAL DE MODA, em 22/10/08, Madri

GILLES LIPOVETSKY (filósofo francês)

“Não podemos reduzir a moda a competição entre classes; há um erotismo no luxo que as pessoas se recusam a pensar” com a frase Lipovetsky responde aos críticos da moda que insistem em interpretá-la somente a partir das categorias de competição, rivalidade e distinção social. O filósofo defende, solitáriamente, que devemos ver na moda também um lócus de prazer, lúdico e experiências humanas. Para ilustrar a cena ele imagina uma mulher comprando um perfume em uma loja, ela abre o frasco, experimenta as fragrâncias, delicia-se com isso. Lipovetsky, após desenhar a cena afirma: não há função nenhuma nisso, no usar perfume. “O efêmero incomoda, pois queremos coisas que durem, sólidas”.Mas, as coisas não duram e nos demos conta disso, o próprio conceito do luxo deixa de ser localizado pela posse de objetos (ostentação) e passa a ser cada vez mais um “luxo experencial”. O luxo do turismo cultural, de passear pelo jardim de Versalles, o luxo da degustação de vinhos e temperos. Um luxo que promove "uma experiência de eternidade com o tempo”.

Se gostou da discussão a dica é ler o livro: LIPOVETSKY, Gilles; ROUX, Elyette. O Luxo Eterno.São Paulo: Companhia das Letras, 2005.