setembro 03, 2008

O belo na necessidade das coisas...


Há uma diferença sutil entre o belo e o tornar as coisas belas. O primeiro é; o segundo torna-se. E, é esse segundo movimento o que mais me fascina. Tornar as coisas belas é fazer dos objetos, das paisagens, dos gestos, dos outros fatos extraordinários em nosso cotidiano. Ritualizar a vida. Aprendi isso, com a mais dura realidade. Quando nos falta o tempo, as possibilidades temos de aprender a ver na vida mais do que obrigações e o feio. É preciso ver o belo na necessidade das coisas. Assim, com a “falta”, aprendi a colocar nas coisas mais banais um gosto incomum. Meus banhos têm cheiros, música e alegria. Meu café é feito vagarosamente até o cheiro contaminar toda a casa. Meus livros são saboreados com uma vibração incomum, cada página pode me provocar insônia (como quando li o “Niilismo europeu” de Nietzsche). Me alegro com suas palavras, pois produzem uma fé sem religião, uma fé em minha potência, no meu vir a ser, mesmo quando as vistas escurecem e o corpo tomba de cansaço – como agora. É preciso ter coragem e beleza para se viver. São as duas coisas fundamentais. Se morre quando não se pode mais lutar. E a vida só tem sentido na luta e na celebração.


Isabelle Anchieta


Vou dizer qual é o pensamento que deve tornar-se a razão, a garantia da doçura de toda a minha vida! É aprender cada vez mais a ver o belo na necessidade das coisas: é assim que serei sempre daqueles que tornam as coisas belas. Amor fati: seja esse de agora em diante o meu amor. Não quero fazer guerra ao feio. Não quero acusar, nem mesmo os acusadores. Desviarei o meu olhar, será essa, de ora em diante, a minha única negação! Em uma palavra, não quero, a partir de hoje, ser outra coisa senão um afirmador” (Nietzsche, GC)