dezembro 16, 2009

Universidade Newton Paiva repercute aprovação da professora no Doutorado de Sociologia da USP


por Indhiara Souza

Isabelle Anchieta é jornalista e mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora no Centro Universitário Newton Paiva. Ela acaba de ser aprovada no doutorado da USP. Passou por seis etapas, de avaliação do currículo a prova de idioma. Enfrentou uma banca de cinco doutores para defender sua pesquisa “A Quarta Mulher”, conhecida e admirada por alunos e professores da Newton. Aqui ela fala desse desafio, que representa um novo momento em sua carreira.

Como foi passar pela banca dos professores da USP? Como conseguiu defender bem sua pesquisa?
Isabelle - Foi um grande desafio pra mim. Tenho desenvolvido a minha pesquisa há três anos e demorei um pouco para atingir certa maturidade para apresentá-la a um doutorado. A USP é muito rigorosa e é a maior nota do Brasil, o nível é internacional. Os doutores da banca foram duríssimos comigo, estudaram meu projeto, fizeram muitas críticas, mas na hora eu não quis recuar, quis defender o meu projeto, porque acredito muito nele. Disse que aquele não era apenas um projeto de doutorado, era projeto de vida.

Por que encara essa pesquisa como “projeto de vida”?
Esse projeto foi um encontro com uma questão central da minha vida. É isso que faz as pessoas terem ou não motivação. Pesquisei muito tempo coisas que não eram exatamente do meu interesse, porque eu sabia que eram do interesse das pessoas. Não parei para questionar o que eu queria. Mas num momento da minha vida, vi uma colega fazendo uma coisa que ela gostava e esse exemplo da vida dela foi importante para mim. Pensei em sondar e encontrar em mim uma coisa que fosse importante e a imagem sempre foi muito importante na minha vida. A imagem da mulher, especialmente, sempre me intrigou.

O que mais vai te deixar saudades na Newton Paiva?
A Newton Paiva foi, de todas as instituições em que trabalhei, a que mais me respeitou, a que mais valorizou meu trabalho. Vou enfrentar um desafio agora, porque estou migrando de área de conhecimento — sou do jornalismo e agora vou para a sociologia. Vou virar aluna de novo, estou adorando, mas fico triste em abandonar minhas aulas e deixar meus alunos aqui.

O que gostaria de falar aos alunos que ficam e que desejam ingressar na área de pesquisa, mestrado, doutorado...
A vida não é fácil, o conhecimento é a única coisa que ninguém pode te tirar. É uma escolha difícil, é uma estrada mais longa: tem que ter dedicação, saber pesar as coisas. Nunca deixei de ter o lazer, mas sempre coloquei as coisas na balança. Hoje os jovens querem realizar todos os prazeres agora, no imediatismo, e perdem a perseverança de construir uma vida sólida. É possível conciliar a vida social com os estudos, até porque estudo pode ser um grande prazer. Os livros construíram a minha vida, o conhecimento construiu minha história. É preciso ter certa obstinação, acreditar na gente e não deixar ninguém medir o nosso valor.

Encaminhe esta notícia

dezembro 04, 2009

Professora é aprovada no Doutorado em Sociologa da USP para desenvolver sua pesquisa sobre as Imagens da Mulher


A cada dia me convenço que uma trajetória bem sucedida é o resultado da combinação entre nossos esforços em traçar um caminho e a abertura dele por algo que nos escapa. Nós: a Vida. Como um par que dança ritmado, em simbiose, uma música. Um só corpo. Alegres por perceberem que dois podem ser um. E nesse encontro tornam-se cada qual mais cientes de si. Eis o que sinto: sintonizada com a força e a beleza dos passos da vida. Passar no doutorado da USP em Sociologia foi o resultado dessa potente combinação. Dediquei-me durante os últimos três anos a pesquisa sobre a imagem da mulher até julgar que tinha uma maturidade razoável para ingressar no doutorado. Foi um caminho bonito. Queria recuperá-lo aqui como um inventário. Espero que não seja cansativo para você, meu leitor, mas trata-se de uma memória afetiva necessária para mim neste momento. Conto com sua amizade para recuperar esses fatos e pessoas que fizeram parte dessa conquista. O primeiro passo foi à oportunidade dada por Alexandre Michalick da Academia de Idéias. Bati em sua porta, sem conhecê-lo, com um papelzinho com propostas de cursos que variavam entre o jornalismo e a imagem da mulher. Advinha o que ele escolheu... Em novembro de 2007 Alexandre me dava à oportunidade de lecionar o curso "O papel da publicidade na constituição da Terceira Mulher”. Tenho de destacar a importância de Alexandre. Ele foi o primeiro a acreditar em minha pesquisa e sempre abriu as portas dessa maravilhosa casa de idéias em BH que tanto deu visibilidade ao meu trabalho. Não vou me esquecer. Pesquisei para montar o curso e estava ainda concentrada na terceira imagem. O curso foi um sucesso. Fui instigada pelos participantes a pensar coisas que não havia problematizado e especialmente percebi o interesse de homens e mulheres sobre o assunto. Foi o início da percepção da relevância social da pesquisa para além do meu interesse pessoal sobre ela. Disso surgiram duas reportagens de veículos que se interessaram pela minha discussão. Primeiro fui capa do caderno de cultura do Hoje em Dia no dia 9 de nov. de 2007. Conduzida pela jornalista Elemara Duarte percebi, na entrevista, que havia mais uma imagem: a quarta mulher. Ela surgiu desse diálogo com Elemara quando senti a necessidade de mais uma categoria para explicar os fenômenos que estava descobrindo. Eureca! Em seguida o Estado de Minas me procurou e deu uma página no caderno Bem Viver sobre a minha pesquisa, intitulado “A Quarta Mulher”, publicado no dia 25 nov. 2007. Foi uma surpresa para mim. Uma página! Com charge, chamada na capa do caderno, foto, além de uma abordagem cuidadosa dada pela jornalista Márcia Maria Cruz (minha caloura no mestrado em comunicação da UFMG).

Nesse período a minha coordenadora de curso, a querida Cida, convidou-me para fechar o semestre com uma palestra privada para os professores. Foi super bacana poder dividir com os colegas meu trabalho. Uma oportunidade que a Cida me ofereceu, generosamente, de aproximar-me de colegas que não tinha, até então, muito contato. Um voto de confiança.

Quero relembrar com carinho também o apoio de colegas, professores, em substituições, para que pudesse me ausentar para cumprir as atividades atreladas a pesquisa (agradeço especialmente ao Marcelo, a Sônia, a Carla e ao Agnaldo "Isa 2", rs). Além, claro, da compreensão dos meus alunos, que sempre me apoiaram, acima de tudo.

Disso tomei coragem e me inscrevi em um Congresso Internacional, indicado por uma colega e amiga, Carla Mendonça (doutoranda em Moda pela UFMG). Me inscrevi com dois trabalhos: “A quarta mulher” e “Laboratório de Moda Brasil” projeto que deselvolvi com minha mãe a designer de moda Adrienne Rabelo (que foi adaptado para se tornar uma série para a TV). Para a minha surpresa os dois projetos foram selecionados. Apenas 10 pesquisadores do mundo foram escolhidos para a apresentação oral e estávamos entre eles. Um orgulho! Não tínhamos condições de viajar a Madri. Mas, como diz minha mãe “a vida não dá asas a cobra, mas dá condições de vôo” conseguimos que a FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais) patrocinasse a nossa ida depois de várias reuniões com a querida Fernanda Cotta que apostou em nosso potencial para representar o estado de MG no 1º Congresso Internacional de Moda e Cultura em Madri. Fomos. E lá o convidado especial era nada menos do que o filósofo Gilles Lipovetsky. Sua obra A Terceira Mulher, foi o ponto de partida da minha pesquisa e queria muito ter a oportunidade de entrar em contato com ele. Mas, nem nas minhas mais otimistas expectativas poderia prever o que aconteceria lá: tornamos-nos grandes amigos. Ele foi super acessível, simpático e discutimos longamente sobre a minha pesquisa durante os intervalos. Ele vinha nos chamar (eu e minha mãe) a todo o momento para lhe fazer companhia. Trocamos emails e iniciamos uma intensa interlocução sobre a pesquisa. Em junho mais um presente da vida. Lipovetsky foi convidado pela PUC MG e daria uma palestra em BH!! Acreditam? Ele veio, ficou hospedado na casa de minha mãe, não quis ficar em um Hotel. Foi ótimo e tenso (confesso). Tenso antes de chegar, com os preparativos para recebê-lo e maravilhoso após sua chegada. Ele é simples, humano e foi super generoso comigo. Lembro-me das manhãs na varandinha da casa de minha mãe, discutindo sobre a pesquisa, fumando um cigarro, tomando cerveja e escutando bossa-nova. Ele ficava horas no computador levantando os livros que deveria ler e me recebia pela manhã com a frase: a noite estive pensando sobre a sua pesquisa e... seguido de dicas e comentário. Foi especial! Me deu força, segurança. Estava falando de igual para “igual” com Gilles Lipovetsky. Pelo menos foi dessa maneira que ele se portou comigo. Chegávamos a discutir e discordar sobre vários assuntos. Ora ele cedia, ora eu. Uma delícia! Como devem ser as interlocuções na academia. Uma aula.

Disso vieram vários convites para dar entrevistas. Em cada uma tinha a sensação que estava sendo preparada para algo maior. Uma espécie de teste. Ora ao vivo em 5 minutos (com a querida jornalista Sandra Gomes na Rede Minas, que participou dos meus cursos), ora em uma hora de duração, sabatinada por três jornalistas, Beth Barra (Hoje em Dia), Jemelice Luz (da União Brasileira de Mulheres) na Sala de Imprensa da TV Assembléia, convidada pela produtora e eterna amiga Danielle Langsdorf. E, em um bate-papo super gostoso na Rádio Itatiaia, aproximando a pesquisa da vida cotidiana das mulheres no programa Observatório Feminino com Maria Cláudia Santos, Mônica Miranda e Kátia Pereira.

Neste ano, em abril, Alexandre, da Academia de Idéias, me convidou a repetir o curso e pediu que sugerisse um nome de peso para debater comigo o assunto. Logo pensei: Mônica Waldvogel. Ele ficou surpreendido, pois já havia iniciado um convite a ela para dar uma palestra. Ela aceitou. Leu minha pesquisa, foi uma honra para mim. Nos encontramos antes da palestra em um almoço privado que reunia grandes nomes mineiros entre mulheres e homens. A Mônica foi perfeita e também super generosa. Elogiou a pesquisa e a necessidade que esse conhecimento fosse ampliado para todas as mulheres. Um momento especial que se repetiu no curso. Sintonizamos. O debate foi rico. Me senti no sofá do Saia Justa, rs. Depois disso trocamos emails e iniciamos uma rica interlocução. Passado duas semanas, novo convite: mediar um debate com Maitê Proença que viria lançar seu livro em BH na AI. Fui. E, ao fim da palestra ela me surpreende contando a todos sobre a minha pesquisa (que a Mônica havia comentado).

Não demorou muito e recebi um email da produção do Saia Justa me convidando para dar uma entrevista sobre a pesquisa. Nossa!! Tive a perfeita consciência que as entrevistas anteriores me prepararam para esse momento. Uma entrevista em um canal nacional> GNT. Elas dedicaram todo o segundo bloco a minha pesquisa e a debateram com muita consideração e inteligência (só senti a Betty Lago não estar no dia).

Para consagrar o caminho da pesquisa fui convidada pelas coordenadoras Cida e Marialice, para abrir a Semana da Comunicação da Newton Paiva (pela manhã e noite com a minha pesquisa). Uma honra. No auditório tive, pela primeira vez, grata oportunidade de apresentar para meus alunos o trabalho. Foi especial. Emocionante, pois o público eram eles: meus queridos companheiros do conhecimento. Foi a minha mais forte exposição, de todas, a que mais me marcou.

Depois senti que era o ano do doutorado. Meu desejo: fazer a pesquisa na Sociologia, já que minha pesquisa estava muito inserida nesse campo de conhecimento. No entanto, tentei tb na Filosofia, por minha identificação com Nietzsche (passei na prova teórica, para a minha surpresa e fui reprovada em francês) tentei na Comunicação na UFMG e meu projeto foi rejeitado (para minha decepção, pois os professores da casa conheciam meu trabalho, o que muito me estranhou...) e, por fim, quando já estava cheia de receios e inseguranças ia me submeter à última e mais importante e rigorosa seleção, onde não conhecia nenhum dos professores: Sociologia da USP. Foram seis duras etapas: avaliação do currículo, avaliação da produção acadêmica (livros, artigos publicados e participação em Congressos), avaliação do projeto, língua (francês), banca com cinco doutores (que foram muito duros e me instigaram a defender minha pesquisa, me despiram e me exigiram autenticidade: adorei) e por fim, entrevista com a orientadora. Resultado: APROVADA!!! Nossa, percebem como a vida não me deu outra opção e conduziu a escolha atrelada ao meu desejo? Incrível! Me deu a coragem necessária em ter de tomar decisões difíceis que se seguem, mas que concorrem para o meu crescimento: parar de dar aula na Newton Paiva (uma instituição que guardarei com extremo carinho pelo respeito que tiveram comigo); abandonar o convívio com meus alunos, que tanto me reconhecem, me alimentam de vontade e me respeitam; abandonar BH e minhas Serras, ficar longe da família e dos amigos, e ir para SP começar essa instigante etapa de renovação e crescimento. Eu e a vida, dançando embaladas pela potente e emocionante música que tem como tema meu propósito de vida...Agora, no entanto, conto com um par, que tem dedicado toda a sua vida, o seu apoio e o amor necessário para que possa dançar essa música; meu noivo: Juan. Meu eterno companheiro que chegou em perfeita harmonia nesta dança, me ensinando os novos passos da "sustentável leveza do ser".

Por fim, quero dedicar meu respeito, carinho e amor a cada aluno, colega, amigo, familiar, pois eu não teria a força ética, a vontade e o desejo de ir em busca dos meus propósitos de vida se não estivesse revestida e motivada pela consideração, respeito e oportunidades que me ofereceram.