junho 26, 2009

SAIA JUSTA> Isabelle Anchieta no Saia Justa (GNT)



Aconteceu! Não fico no sofá, rs, mas...concedi entrevista para o Saia Justa/GNT sobre a minha pesquisa "A quarta mulher". Estive em SP no dia 23 para gravar a reportagem. Ela será exibida no dia 15 de julho, quarta-feira, às 22h30, no canal 41, (GNT). Após a exibição , as "saias" (Monica Waldvogel, Betty Lago, Márcia Tiburi e Maitê Proença) discutirão o assunto. Confesso que será uma experiência ao mesmo tempo maravilhosa e estranha ter pesssoas tão interessantes avaliando a pesquisa. Uma mistura de receio e honra.
Confesso que não sei se o resultado da entrevista ficou bom. Não pelo pelo cinegrafista, os assistentes e pela produtora: ótimos, super simpáticos. Mas, pelo local: uma praça. Tivemos de regravar várias vezes porque havia muito barulho e interferências (crianças, helicóptero, manifestação, resumindo: SP). No final estava exaurida de tanto dizer a mesma coisa, não sei se ficou natural, mas, vamos ver o resultado...até eu estou curiosa.
Mas, para mim o que é mais surpreendente neste fato é uma curiosidade. Há 3 anos atrás, assistindo TV, vi uma colega do mestrado cencedendo uma entrevista na GNT para a Marília Gabriela sobre sua pesquisa que tratava de mães modernas. Achei surreal. Uma colega minha, tão próxima, falando de sua pesquisa na GNT. Aquilo produziu em mim um clique, pensei: tenho de descobrir algo que efetivamente goste para pesquisar, descobrir na minha história de vida esse tema central que desse conta, ao mesmo tempo, de ser relevante para todos. Na época não tinha tido ainda a idéia da análise de imagens e dos imaginários da mulher, o que aconteceu a partir do momento em que percebi a necessidade de me sondar, de encontrar minha "vontade de potência". Acho que encontrei. A pesquisa , além de ajudar as pessoas a compreender o papel da mulher, tem me ensinado muito, me concedido a clareza sobre o que é ser mulher. No entanto, sei que falta ainda muito trabalho para alcançar meus objetivos, mas o mais importante eu já tenho: o meu propósito. E, no meio do caminho, esses importantes sinais de que ele é significativo.

Para saber mais sobre a pesquisa acesse: http://quartamulher.blogspot.com/

O programa vai ao ar no dia 15 de julho, às 22h30, no canal 41 (GNT). Assistam e digam o que acharam,

Estou feliz.

junho 20, 2009

DIPLOMA JORNALISMO> Fim do diploma de Jornalismo: fim da liberdade de expressão mediada por comunicadores competentes, risco para democracia

Uma lastimável decisão do STF. O argumento: fraco. Dizer que a formação superior impede a liberdade de expressão é o mesmo que afirmar que a liberdade é algo sem limites, sem restrição, se o fosse não precisaríamos de leis, de STF. Garantir a qualidade da informação é garantir uma sociedade politizada e livre. Manter o controle sobre a base cognitiva do conhecimento que distingue a profissão nunca impediu a livre manifestação das pessoas, ao contrário. Pois, o jornalista é aquele que estabelece o debate social, como um juíz, dando as partes um tratamento imparcial - o que não acontece com os artigos opinativos de especialistas (que não apuram o fato para além da sua própria visão do assunto). Sem jornalistas estaríamos fadados a ter visões parciais e especializadas do mundo, incapazes de estabelecer um debate social mais amplo. Para essa importante função o jornalista precisa: de formação humanística, associada a tecnicas-éticas de produção de informação. O jornalista é aquele capaz de mediar, de tornar comunicável através de um conjunto de conhecimentos próprios os acontecimentos. Tentarei demonstrar, no artigo indicado abaixo, quais as razões que justificam não o fim das exigências, mas a sua consolidação e intensificação. O jornalismo é, sim, uma área de conhecimento específico que possui decisiva importância sobre as dinâmicas sociais em que está inserido. E, que, por isso, tem uma responsabilidade acrescida sobre a emancipação ou não dos sujeitos e da sociedade. E, como toda profissão que possui tal responsabilidade social, o jornalismo deve vir acompanhado de três elementos fundamentais: formação de qualidade, liberdade de expressão e limites ao exercício dessa liberdade. É nesse sentido que devemos nos empenhar em legitimar o lugar de um comunicador autorizado capaz de realizar as operações técnicas e éticas próprias a profissão e dignas de uma sociedade democrática. O caminho contrário, sua deslegitimação, parece servir apenas aos interesses de pessoas que favorecem-se da ignorância social e da despolitização dos cidadãos.

junho 06, 2009

Sobre encontros que transformam nossas vidas: o filósofo Gilles Lipovetsky e a pesquisadora Isabelle Anchieta em Belo Horizonte


Gilles Lipovetsky e Isabelle Anchieta (Inhotim, 06/2009)

"Há encontros em nossas vidas que a transformam completamente" a frase dita por Lipovetsky ilustra bem nosso encontro. Pensar que tudo começou através da leitura de uma de suas obras ...Naquele livro, que tratava sobre a mulher, me deparava com um grande filósofo contemporâneo e suas idéias que se materializavam e se limitavam, supostamente, ao livro que tinha em minhas mãos. Desse primeiro encontro virtual um conjunto de idéias irrompiam, sendo capazes de gerar a energia suficiente para a produção da minha própria pesquisa (que em parte contradiz algumas concepções de Lipovetsky). Do nascimento dela um conjunto de movimentos silenciosos se organizavam para gerar mais uma sequência de ações inesperadas. Fui selecionada para apresentar (com outros 10 pesquisadores internacionais) o meu trabalho "A Quarta Mulher" em Madri, em outubro de 2008. Quem estaria lá? Gilles Lipoetsky. Pois é, foi assim que ele, enfim, conheceu minha pesquisa e se interessou pela forma como conduzi e até contradisse suas perspectivas. Desse ponto uma intensa e rica interlocução se travava entre eu e Lipovetsky. Após quase um ano, foi a vez dele vir ao Brasil, em Belo Horizonte para a Compós (06/2009) e hospedou-se na casa de minha mãe. Digo isso, porque o convívio me ensinou novas e diferentes coisas. Aprendi que para pensar não temos de ser ranzinzas - ele não o é, é divertido, leve, brincalhão. Aprendi que "prazer é tempo": para tomar um café, fumar um cigarro, ler, ficar na varanda tomando o sol de outono e escutando bossa nova. Aprendi que pensar pode acontecer a dois e não só de forma solitária. Pois, todas as manhãs ia até lá e conversávamos longa e entusiasmadamente sobre a minha pesquisa. Me espantei com sua generosidade em me apresentar novas e ambiciosas questões. Quando chegava ele me dizia alegre: ontem a noite estava pensando sobre sua pesquisa e tive uma outra idéia...seguida de indicações de livros que não li. Traçamos, juntos, um plano de estudos para os próximos 4 anos da minha vida. Mas, o que pode parecer o adiamento do sonho é para mim sua consolidação. Um oceano apresenta-se desde então. Mas, estou excitada para começar essa viagem, em parte nova, mas em parte segura já que tenho, agora, um co-piloto que me oferece mapas e sugere a navegação.

Uma noite, em especial, me marcou. Voltávamos de um encontro com alunos do mestrado na PUC e ia deixá-lo na casa de minha mãe quando ele me perguntou se me importava, antes, de caminhar um pouco pelo bairro. Temi por nossa segurança, já era tarde, mas fui. Acho que há anos não fazia isso. Misturou-se nessa caminhada: a noite, o brilho de Belo Horizonte, um certo receio e o entusiasmo de nossas idéias. A cada cinco passos parávamos, um frente ao outro, para defendermos de forma acalourada as nossas perspectivas. Um desses momentos que se intensificam na mistura entre o ambiente e as idéias e que, assim, formam uma imagem definitiva em nossa memória.

Desse encontro com Lipovetsky fica um oceano de idéias e alguns mapas de navegação. Fica a vontade e o prazer de pensar, de ler. Fica a generosidade da troca, do embate, da filosofia. Ficam janelas abertas, fica o sol confortante de outono e mais: a certeza do propósito da vida e a experiência de que para produzir uma bela obra é preciso de encontros felizes e verdadeiros como esse.