outubro 23, 2010

JORNALISMO CULTURAL> Palestra: "Desafios do Jornalismo Cultural", Universidade Mackenzie, SP


Paulo-Brusky, Bienal 2010

Quais são os desafios atuais do Jornalismo Cultural _ quando a própria crise e transformação dos conceitos de arte e de cultura forçam, simultaneamente, a revisão do lugar e da função do jornalismo cultural. Esse foi o tema da palestra que ministrei para os alunos de jornalismo da Universidade Mackenzie, durante o “V Encontro de Comunicação e Letras”, no dia 20 de out. 2010. Tal palestra realizou-se através do convite de uma professora da instituição que passei a admirar muito pelo trabalho e pela pessoa que é, no sentido dos gestos de que é capaz: Cicélia Pincer.
Dentre os desafios do JN Cultural selecionei cinco:
1) Equilibrar a informação-serviço (agenda) com reflexividade contidas nos gêneros: crítica, crônica e resenha,
2) Entender a cultura como ação cultural, como experiência e interação (jogo) e não mais como produtos e objetos culturais ou com os artista isoladamente. Não é o papel do jornalista qualificar, gostar ou não das expressões culturais, mas compreender o jogo social que aciona essas expressões culturais, sujeitos e o contexto social. A ideia é compreender qual o sentido daquela expressão para aqueles sujeitos, inseridos naquele contexto? Assim, tanto o funck como a MPB podem ser pensadas dentro do jogo da cultura.
3) Tratar com seriedade os produtos da I.C (novelas, reality-shows, programas de auditório e etc) e as novas formas estéticas (moda, culinária e design). No país, as novelas, por exemplo, não merecem uma análise especializada, nem são alvo de uma crítica séria, confinando o seu tratamento a seção de fofocas. Mesmo que seja o gênero dramatúrgico que mais influi na cultura do país, promovendo debates e até mudando leis ou as criando, como no caso do Estatuto do Idoso, onde o maltrato a um casal de idosos em uma novela acionou a discussão no Congresso,
4) Ser simples, sem ser simplório (máxima de Tobias Peucer “que todos entendam e que os eruditos respeitem”); evitar textos herméticos (máxima Nietzsche “buraco raso esconde-se com águas escuras” (AFZ)
Esta palestra na Universidade Mackenzie foi um momento duplamente gratificante para mim. Primeiro por debater um assunto que me apaixona: o jornalismo. A narrativa mais complexa e mais simples que há. Complexa, porque transita em todos os universos do fazer e do pensar. Simples, porque tem de traduzir com a máxima simplicidade, comunicabilidade e atratividade a densidade do mundo. Surgem para isso personagens que corporificam os números das pesquisas, comparações que tornam inteligível o assunto, gráficos e imagens que ilustram e informam. Eis a mais bela profissão do mundo também para os jornalistas, como bem observou Gabriel Garcia Marques. Pois, dela usufruimos de toda a diversidade de pessoas e fatos. Os jornalistas ganham os movimentos da vida durante a cobertura, pulsam com ela.
A segunda razão da minha satisfação com a palestra foi a do reencontro com os alunos, da sala de aula, da troca. Desde que me formei, em 2001, nunca deixei de dar aulas. Cheguei até a dar aulas para colegas que haviam sido reprovados e me reencontraram já como professora (na ocasião substituí a professora de jornalismo econômico, Eleonora Bastos, a quem devo, com todo meu carinho e admiração, a primeira oportunidade de lecionar. Agora meu carinho dedica-se também ao ato generoso de coleguismo e se ouso dizer, de amizade, da professora Cicélia Pincer, que é, com toda razão, admirada e querida pelos alunos da Universidade Mackenzie). Desde então, esta minha vocação encontrou oportunidades de se expressar. Nunca parei de dar aula, passei em todos os concursos em que me testaram lecionando e tive dos meus alunos diversas provas de reconhecimento do meu trabalho, destaco a da primeira turma de jornalismo formada em 2005 da extinta Fadom, hoje Pitágoras, em que colocaram o nome da turma de “turma Isabelle Anchieta”, a placa comemorativa permanece na instituição.
Assim, não só essa alegria, mas muitas outras vividas com meus alunos fizeram da sala de aula o centro da minha vida, que me confere utilidade e valor. A aula está em meu DNA, é o espaço onde minha alma se reanima, ganha forças, cria. Meus textos, são o resultado das minhas aulas, nascem delas.
E, pela primeira vez, com minha mudança para SP em razão do doutorado na USP tive de deixar de lecionar. Imaginei, com ingenuidade, que o doutorado compensaria o que sentia dando aulas, que seria bom voltar a ser aluna. Mas, apesar de realmente viver hoje uma experiência de um conhecimento aprofundado, nada substitui o fato de ser professora.
Por isso, voltar a sala de aula só confirmou minha vocação, só aumentou a saudade do que eu sou, do que eu posso voltar a ser...
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