dezembro 22, 2010

VALOR PRÓPRIO > Quem pode medir o nosso valor? Garantir ou não o nosso sucesso?


"A Onda" de Camille Claudel: três mulheres diante da força da onda, entre a possibilidade de superá-la ou sucumbir a sua violência


O que define o nosso valor? Como poderíamos saber se realmente somos bons naquilo que fazemos?
A nossa auto-avaliação é sempre suspeitosa. Ou nos achamos muito bons ou nos sentimos um fracasso total. E, no fundo, sabemos que nossa auto-avaliação é sempre “fantasiosa” e de nada nos vale se não passamos em um teste, se não aceitam o nosso trabalho, se perdemos a chance. A avaliação do outro pode nos impedir, parcialmente, de seguir a diante.
O outro é nossa referência, a mais cruel em alguns momentos. Pois o "não", o "você não", define, para nós, o nosso valor, ou a falta dele. A nossa invisibilidade, a chance negada de mostrar o que poderíamos vir a ser é a mais cruel interrupção da nossa potência. Precisamos de chances e, em alguns momentos, de que as pessoas apostem em nós.
Mas, se estou por um lado afirmando que o outro é o nosso espelho mais “real”, por outro lado gostaria de denunciar o perigo dessa referência de nosso próprio valor.
Há poucos dias me deparei com a história de Joanne Rowling, autora da ficção lida por 400 milhões de pessoas em todo o mundo, o que a tornou a mulher mais rica da história da literatura com seu Harry Potter. Mas, esse é o final feliz de uma obra que foi rejeitada oito vezes, isso, 8 vezes por editoras. Nessa oitava negativa ela poderia ter pensado: essa história é fraca, um lixo e, o pior, poderia ter parado de escrever se sentindo uma escritora medíocre, ter desistido. Mas, ela não o fez. Tentou a nona vez: conseguiu. O resto da história nós sabemos, o êxito mundial. Esse passo adiante onde todos teriam desistido foi o que fez a diferença na vida dela e dos leitores que, sim, acreditaram nessa história e fizeram dela um sucesso. Eis o perigo: a avaliação de um pequeno grupo pode nos impedir de ter a oportunidade de ganhar visibilidade e com ela a correta avaliação do seu valor pelo público em geral. Por isso, quero afirmar: se você acredita no que faz, insista.
Não quero que essa frase recaia em um otimismo ingênuo e fácil. Porque sei que, entre esse passo adiante e a frustração que o antecede, há o silêncio no meio. A angústia e a terrível sensação de que estamos condenados a nossa própria mediocridade. Perdemos a força, a vontade, indiferentes ao frio e ao calor, a beleza ou a feiúra, o sem sentido, o cinismo, o niilismo fatigado. Entre o desânimo e o ânimo que faz esse passo existir, há a confusão de sentimentos e a revolta com os nossos limites. Há a sensação de que o outro é muito superior a nós, inalcançável. Há a cobrança de porque não fiz isso, não falei aquilo, estudei aquela outra coisa? Há sempre entre a perda de seu valor e esse passo um enorme abismo onde nos metemos. E, de onde é muito difícil arrumar energias para sair. Como essa energia surge? Não sei, mas ela surge como uma pequena chama de fé “sem religião” que consegue aquecer nossa alma por inteiro. Parte de uma pequena ação que nos “realma” aos poucos e definitivamente. E nos faz ter a paciência de catar os retalhos que sobraram de nós, de costurar esse remendo que nos tornamos depois de perdemos nosso valor próprio.
É preciso, contra todas as condições adversas, encontrar uma reconciliação consigo que nos reabilita para que possamos nos amar, mesmo que um pouquinho, eis a condição necessária para dar esse passo além, onde todos parariam.