fevereiro 24, 2011

DESPERDIÇAR O TEMPO> O tempo passou na janela...


Dedico esta postagem a duas grandes amigas e a mim.
Nós três vivemos um momento muito parecido. Sei que é estranho dizer “a mim”, mas às vezes escrevo para ver se escuto também...
Confesso que não sou tão coerente, muito menos consigo honrar tudo o que penso.
Mas, voltando... o que está acontecendo, simultaneamente, nessas três histórias? A consciência de um vazio. Ele se dá por três razões distintas (ás vezes interligadas): limites físicos, limites profissionais, limites afetivos.
O vazio de perceber, um dia, que a vida transcorre sem a sua necessidade. Que as pessoas podem ser felizes ao lado de outras pessoas. Que no trabalho há colegas tão queridos como você e que se morrermos _ chorarão_, mas todos seguirão de alguma forma depois que o sofrimento passar.
Paramos para ver a banda passar pela nossa janela.
Nesses tempos distintos e tragicamente entrelaçados:
Vemos pessoas felizes, saudáveis, trabalhando e tendo sucesso, amando e sendo amadas.
Mas, simultaneamente, temos a sensação de estar e de não estar ali,
Do outro lado da janela,
Isolados, desolados ; imobilizados.
Acontece algo cíclico: sabemos que temos de agir, mas não temos mais energias para agir e quanto mais tomamos consciência da nossa responsabilidade nesse processo, menos fazemos para mudá-lo.
A vida vai ficando distante, como a banda... e sabemos que se não estamos na banda, não estamos na vida...
Uma pequena morte, melhor: um suicídio.
Autodestrutivo.
Deixamos transcorrer contra nós o tempo. Sabendo que ele está nessa posição: contra. E, essa consciência, melhor, essa conivência é perversa. Há um deleite em assistirmos a nossa derrocada, sem agir, sem mover-se da cadeira. Não há forças para isso. Sabemos aonde chegará processo e deixamos transcorrer a nossa destruição. Uma vingança contra uma noção diminuída do que nos tornamos. Merecemos o castigo. Nos castigamos: por não termos nos superado; por não sermos melhores do que somos; por não merecermos o amor alheio.
Querem um final consolador? Não, não o terão (não agora). Há certos vazios, em certos momentos da vida, que são constitutivos do que somos...

fevereiro 22, 2011

SEM-LUGAR> Os sem-lugar


Só quem abandona seu lugar pode saber das estreitezas dele,
Saber o quanto os hábitos locais e suas crenças são responsáveis por emperrar seu crescimento,
Somos acometidos por uma lucidez de quem olha de fora e em relação a outros lugares e pessoas,
Mas, simultaneamente nós, como “estrangeiros-locais”, somos aqueles que podem fazer com que os que ficaram vejam as belezas e singularidades que também só a comparação com outros lugares pode oferecer,
Hoje sei: comparar é o único caminho para saber,
Um saber que cobra também seu pedágio, pois
Sair do nosso lugar nos torna sem-lugar (parafraseando os não-lugares de Marc-Augé).
A volta nos parece, desde então, estreita e acolhedora.
Familiar nos lugares e incômoda nos hábitos.
As pessoas nos reconhecem, mas nos sentimos outros...
Como uma foto em preto e branco com uma legenda que nos identifique, sem saber das cores que adquirimos no caminho
Essa lucidez é uma avaliação que ressignifica não só o local, mas a nossa própria condição.
Uma condição meio boa, meio ruim
De liberdade e de desassossego,
De lucidez mental e solidão espacial,
Eis o risco de sair: crescer e ser sem-lugar.
Eis o risco de ficar: parar e se contentar.