outubro 16, 2013

Meu cavalo morreu

Meu cavalo morreu. E, com ele, parte da minha experiência de liberdade. Dizem que são as pessoas que nos formam...Verdade, mas incluiria os animais e os objetos nessa afirmação. Parece estranho?! Mas, creio que minha percepção do mundo está mediada por muitas experiências: a do avião, da fotografia, dos carros, dos livros, das telas....Mas, hoje quero falar do meu branquinho. Não tinha nome, apenas sua cor, um branco manchado (de bolinhas negras). Não que seja a ausência de sua nomeação uma desconsideração da minha parte, mas o reconhecimento de que não podia ser cercado por palavra, arame, curral algum... Era um bicho bravo. “Tinha ardência”, dizia meu pai. Era difícil montar nele, já saia disparado. Se outro cavalo ao lado o ultrapassasse...ai, ai, ai...eu já me preparava...unia forças (não sei mais de onde) e ultrapassava... sempre. Tinha de estar ali: na frente. Cavalgava um espírito nato de um cavalo de corrida. 

Uma vez me jogou em um monte de espinhos, sangrei como nunca. Me levantei, bati em seu rosto e voltei a ele. Não me ofendia: me ensinava a ser brava. O branquinho era assim...não gostava de ordem: gostava de correr. Isso, sim, como gostava...como se eu não estivesse em cima dele querendo o mesmo. Era ele ali, querendo. Uma vontade visceral, sentida, que me liberava do peso do cabresto. Sinônimo de uma experiência rarefeita em minha vida: a de não sentir culpa. A melhor tradução que encontrei para a liberdade. Éramos, assim: dois brincando de sermos livres nesse galope. Separados: unidos. Companheiros em busca desse ar acelerado, desse coração que palpita, desse medo alegre...
Como posso sentir isso sem ele? De verdade, eu ainda não sei...

outubro 15, 2013

Porque os professores deveriam ter o salário de um deputado e o reconhecimento de um jogador de futebol?


Desde o movimento “Não é só por 20 centavos” circula na net uma frase do dramaturgo Bertolt Brecht muito oportuna a introdução deste texto: “Que tempos são estes que temos de defender o óbvio?” 
Nunca entendi porque um professor ganha menos do que um deputado, um senador, um juíz, um promotor de justiça?! Nunca entendi porque tem que trabalhar tanto, repetir aulas acriticamente e não tem tempo para estudar e se aperfeiçoar?! Nunca entendi porque deve publicar artigos de graça em revistas científicas e ainda conceder todos os direitos autorais do seu trabalho intelectual? Nunca entendi porque no final do mês ele quase não consegue pagar suas contas e tem uma vida restrita em todos os sentidos, inclusive culturalmente. Não tem recursos para viajar, comprar livros, participar de congressos ou mesmo oferecer um ensino de qualidade aos seus filhos.
Nunca entendi porque ele não é valorizado por empresários e políticos? Porque sua profissão não é tida como uma profissão? Será que é porque ganhamos trocados em troca do nosso trabalho intelectual? Porque a produção de conhecimento, por ser imaterial, não possa ser quantificada? Ou, porque não estamos no poder formulando as leis e definindo os nossos próprios salários?
A corrupção e o auto-favorecimento levam a uma miopia perigosa, inclusive para os mensaleiros de plantão. Pois, sem o desenvolvimento do país os seus interesses também estão em risco. Um país que não gera riqueza, não é um bom país para ninguém. O ganho imediato, o “tudo para mim”, a falta de princípios conduz a uma cegueira a médio, longo prazo. Lembrem-se do óbvio: são os professores que formam os juízes, os engenheiros, os médicos, os jornalistas, os economistas, os sociólogos, psicólogos... Querem bons profissionais? Teremos de formar bons professores. Um país desenvolvido, rico e autossuficiente é um país que investiu em algum momento nos profissionais da educação.
Um investimento financeiro, claro, mas também social: o de seu reconhecimento ampliado. Pois, como nos lembra o educador Paulo Freire ensinar não é uma mera transferência de conhecimento . Depende de uma relação de integridade, pois é acima de tudo um encontro humano, esse, sim, uma forma de abrir-se a possibilidades...
Mas, infelizmente não é essa a aposta do país, quem sabe seja por esta razão que nos revelamos ao mundo uma aposta frustrada. Uma país que tinha tudo para decolar e não decolou.
No entanto, uma faísca se ascende em meio a neblina: professores e alunos unidos em solidariedade em defesa da educação. Dois grupos que, de fato, podem reconduzir o país para o desenvolvimento e para a formação de princípios éticos.
Creio, sem duvidar, que o fortalecimento deles é o caminho para o bem estar social