janeiro 20, 2010

SOLIDÃO > A solidão do artista


"- Engraçado. Eu canto em tantos lugares do mundo, para cinco mil, dez mil, quinze mil pessoas, e então elas dançam, algumas choram, aplaudem, vibram com a minha música. É como se fosse uma missa com emoções compartilhadas - mas depois todos vão embora e eu vou para o camarim sozinho. Depois eu vou sozinho para o hotel ou para a minha casa e me pergunto: para onde foram as pessoas". O depoimento, de um músico brasileiro é parte de uma crônica de Luiz Fernando Emediato. O tema: intrigante. A solidão do artista.
É uma solidão de um tipo muito especial que Milan Kundera já havia descrito em seu romance: a do "olhar do público"(ILS,p.271). Para isso a imagem do palco é perfeita> ali o artista está sob o olhar distante e invasivo da platéia. Muitos o observam, poucos o conhecem.
Por essa razão será sempre uma fraude. Pois atrás de toda a imagem pública e de sucesso há um fardo: o do défcit entre a expectativa do público sobre uma atuação linear e previsível e os limites e contradilções do ator social. Para manter sua imagem, frequentemente, esconde-se com medo de ser defraudado, desmascarado e porque não: humanizado. Adélia Prado aconselhou uma vez que: "o público nunca deveria aproximar-se ou conhecer seu escritor senão por meio de sua obra". Tal conselho deu-se durante uma palestra para poucos convidados, momento em que externalizava seu incômodo de estar ali, tão próxima dos seus leitores. Em um texto transforma sua vulnerabilidade em poesia: "A edilidade vai me ovacionar. No entanto, se me escavarem, nada encontraram. A não ser desejo, quase ingratidão" (Menina aprendiz)

janeiro 04, 2010

PERSISTÊNCIA> Mais uma vez


"Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, espera que o sol já vem...escuridão já vi pior, de enlouquecer gente sã, espera que o sol já vem. Tem gente que não sabe amar, tem gente enganado a gente, veja a nossa vida como está, mas eu sei que um dia a agente aprende , se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança" (Renato Russo)

Essa letra já fez sentido em minha vida uma vez e novamente o faz. Mas, agora ela ganhou uma leveza e uma compreensão que não possuia da primeira vez. Com essa constatação perecebo que estou mais forte. Pois, cada ruptura que passo em minha vida funciona como um rito necessário. Confio, como nunca, na generosidade da vida, mesmo quando estou diante de grandes perdas, ou melhor, é justamente nelas em que percebo sua maior grandeza. A vida nos afasta do que não nos serve mais. Há as vezes uma grande violência nisso, como se uma criança perdesse um dedo, amputado por uma porta. Desses sofrimentos que nos parecem inexplicáveis, cruéis demais para qualquer explicação, para qualquer consolo. A vida tem suas cruezas, mas são nelas em que estão as nossas grandes e fundamentais mudanças. Há um incômodo nisso, um luto, um distanciamento do mundo, como se assistíssemos chocados a nossa rotina e estranhessemos o repetir sem sentido de nossas vidas. É o para que! É o absurdo que nos bate a porta e nos faz questionar nossa vida em sua totalidade, em sua utilidade. Mas, hoje não tenho um tom choroso ao refletir sobre essas coisas. É leve, seguro.

Não que o fato não tenha me mobilizado (por isso escrevo), mas o que essa experiência me causou foi raiva, porque sinto que as pessoas estão perdendo valores preciosos. Não falo de valores morais, religiosos ou nada dessa ordem. Mas, de valores humanos, esses que não precisam de regras, normas, apenas de respeito, solidariedade, generosidade, ética e bom senso. As pessoas estão vulgares. Mesquinhas, economizando seus sentimentos e, com eles, a grandeza do que podem vir a ser através do efeito propagador da generosidade. Há pouca nobreza nas relações interpessoais e o que une uns aos outros é frágil demais para passar por qualquer prova, a mais banal prova de lealdade, amizade. Corrompem-se na primeira e mais leve curva, fracos! Fracos de caráter, fracos! Não consigo sequer sentir pena, dó, pois me provocam repulsa.
Por isso, a perda de hoje me deixou mais forte, mesmo que essa força se dê as custas de uma solidão, de um isolamento. Quem sabe o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen tenha razão quando sentenciou que o fim de homens e mulheres que decidiram ser fiéis a si é a solidão. Dizia ele, na peça "O Inimigo do Povo" que "o homem mais forte é o que está mais só".
Minha solidão pessoal, evidentemente, não é extrema, tenho clareza disso. Tenho ao meu lado pessoas nobres, dignas de minha admiração. Nelas sinto o ar mais puro, a mente mais livre, o corpo entregue em confiança, essa palavra: confiança, quero repetí-la mais uma vez na esperança que se fixe...esse sentimento tão raro, tão nobre de que poucos são capazes.

Hoje eu quero confiar, mais uma vez, na generosidade da vida, no que ela tem de destrutiva e renovadora. Incondicionalmente. Amor fati!