janeiro 29, 2009

Felicidade: uma postura afirmativa, mesmo durante o sofrimento


É possível colocar em cheque a máxima “sem sacrifício hoje, não há felicidade amanhã”? Sim, é possível. Como? Para entender melhor iremos definir de forma esquemática as 3 atitudes básicas das pessoas diante da vida e da busca pela felicidade:

1) O Mártir: aquele que acha que a felicidade está no futuro e, por isso, sacrifica-se no presente. Sua felicidade está em alcançar metas, mas após o alívio de atingí-las sente-se novamente vazio, buscando infinitamente uma nova meta.
2) O Hedonista: aquele que quer viver ao máximo o hoje, o presente e não se importa com as conseqüências de seu prazer imediato. Trata-se de uma pessoa constantemente em "ressaca" pelo excesso de prazer. Associa esforço ao sofrimento e prazer a felicidade.
3) O Blasé: pessoas constantemente insatisfeitas, indiferentes. Nada para elas está bom, mesmo quando todos os recursos para a felicidade parecem as ser oferecidos.

No entanto, a felicidade não pode nem ser uma meta futura (inalcançável); não pode ser inconseqüente com o futuro; nem indiferente. Pois, quando o mártir “confunde momentos de alívio com felicidade, reforça a ilusão de que o simples cumprimento de metas nos faz felizes” (BEN-SHAHAR, 2008). Já o hedonista “se engana quando associa esforço com sofrimento e prazer com felicidade”. Há um episódio da série televisiva Além da Imaginação que ilustra bem o erro tanto do hedonista quanto do blasé. No episódio “um criminoso cruel é assassinado e recepcionado por um anjo encarregado de satisfazer todos os seus desejos. O homem assusta-se por ter ido para o céu, após tantos crimes. Fica confuso, mas acaba aceitando sua boa sorte e começa a pedir somas de dinheiro, refeições, belas mulheres e é atendido. Desfruta de grande prazer. No entanto, com o passar do tempo o prazer começa a diminuir; sua existência sem esforço começa a cansar. Pede ao anjo algum trabalho que o desafie, mas é informado que naquele lugar pode ter o que quiser menos a oportunidade de trabalhar pelas coisas que pede. Pensando que estava no céu o homem diz querer ir para o inferno. Nesse momento a câmara faz um close no rosto do anjo e sua fase transforma-se na face do diabo. Este é o inferno que o hedonista confunde com o céu... ”(BEN-SHAHAR, 2008). Sem propósitos, objetivos e luta a vida perde o sentido e não encontramos a felicidade.
Estamos, enfim, diante da quarta e mais densa postura diante da vida....a de lutarmos, vermos sentido e propósito nessa luta, celebramos e acima de tudo acreditarmos na vida mesmo diante do sofrimento e das adversidades (o chamado por Nietzsche de amor fati). A felicidade está na travessia e não só na chegada. Trata-se de curtir a paisagem e não só o destino e trocar o pneu se for preciso. A felicidade está na luta, no que a significa e no seu resultado (bom ou ruim). É nesse sentido que podemos ser felizes agora e no futuro.
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>>"Não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade. Não só suportar o que é necessário, mas amá-lo. (...) Em suma: quero ser, algum dia apenas alguém que diz sim."" (Nietzsche, GC).
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>>"A guerra educa para a liberdade (e para a felicidade). O que é a liberdade? (A felicidade?) É ter a vontade de responder por si, é ser indiferente às amarguras, às asperezas, às privações; é estar pronto a sacrificar a tudo, sem excecutar-se a si mesmo. Liberdade significa os instintos alegres de guerra e de vitória. (...) Primeiro princípio: é preciso ter necessidade de ser forte (e feliz), caso contrário, nunca se chega a sê-lo" (NIETZSCHE, CI, p.89)

janeiro 12, 2009

O homem que amou demais

Sei que podem estranhar a minha narrativa, confesso que não estou mesmo acostumada a ela...Mas, como já denunciava Walter Benjamin perdemos a capacidade de narrar...de contar histórias e com isso perdemos também a magia dessa forma artesanal de comunicação...tão humana...Faço aqui a minha envergonhada, mas necessária tentativa...

Era uma vez...porque uma vez haveria de ser para que tudo comece e termine...um homem que amou uma mulher mais do que a si mesmo. Um homem capaz de uma amor tão intenso que só poderia ser compreendido por seu modo de ser no mundo. Acostumado que estava a grandes batalhas já havia enfrentado todos os tipos de periculosidades e soube, a cada temor, dar o golpe certeiro de sua espada. Superou, inclusive, o pior e mais temido inimigo.... Uma doença que apoderou-se de seu corpo e tombou-o em uma cama. A suspeita: não voltaria a andar. No entanto, quem poderia diagnosticar esse guerreiro a não ser ele próprio? Não acreditou e se auto-diagnosticou contra tudo e todos: voltaria, sim, a andar, a correr, a lutar e a tudo mais que estava acostumado e ainda melhor. Convicto que estava disso lançou-se, apaixonadamente, em sua mais difícil batalha e dela saiu ainda mais belo e confiante de sua força.
No entanto, não sabia que a sua luta mais desafiadora ainda estaria por vir. Uma mulher. Tão indomável como o seu mais audaz inimigo.Tão livre e incomum. Uma mulher que possuía uma lucidez penetrante que lhe permitia ver além de qualquer formalismo, como se viesse de volta de vinte anos de guerra. Contraditória; pois quanto mais dominava os saberes do mundo, tornava-se cada vez mais impermeável aos formalismos, mais indiferente à malícia e desconfiança, feliz num mundo próprio de realidades simples. E, quanto mais livre dos convencionalismos e obediente a sua espontaneidade, mais perturbadora ficava sua beleza e mais provocante seu comportamento. Tudo nela pecava, por assim dizer, por um excesso de delicadeza*.
Ao contrário da maioria das mulheres não queria casar-se, ter filhos e nada que a limitasse em sua liberdade. A liberdade é, por isso, sua potência. É o vento forte que alimenta seu espírito nos topos dos horizontes das montanhas. Filha do sol, amante do vento da serra, das águas correntes, das cachoeiras, galopa para sentir os ventos doidos nos cabelos*.
Uma mulher que cercava-se da beleza através dos mais delicados objetos, sabedora que era da influência deles sobre cada um dos seus gestos. Tudo que a adornava, tudo que servia para realçar sua beleza, fazia parte dela própria. É, sem dúvida, uma luz, um olhar, um convite à felicidade... *.
Ele, o guerreiro, a escolheu como alvo de seu amor. Mas, por quê? Porque não poderia escolher nada menor do que os grandes desafios a que estava acostumado. E, quanto mais percebia nela uma batalha, mais instigava-lhe a conquista. Não que isso revelasse nele um traço de vaidade, ao contrário, o que o movia era uma nobreza digna dos melhores sentimentos: encantamento, amizade, generosidade, doação e uma série de virtudes dignas de um tratado que as catalogasse.
Persistente e incansável que era em seus objetivos conquistou, enfim, o amor da mulher. Ela estava encantada com sua força, persistência e, especialmente, por sua capacidade de amá-la. O que não significou que tiveram uma vida serena juntos, nada disso. Travaram memoráveis batalhas, herdeiros que eram, ambos, da belicosidade e da obstinação.
No entanto, a mulher viu-se, em determinado momento, impelida por sua natureza. A liberdade a chamou e ela sofreu como nunca ao deixar o guerreiro. A nobreza do sentimento do guerreiro por ela a fez, inclusive, repensar sua própria natureza, a querer ser, por um instante, uma mulher comum. Mas, nada pode impedir um espírito tão ávido por sua liberdade e tão convicto de seu caminho.
Ele sofreu, ciente de perde-la. No entanto, ganhou algo que não poderia imaginar com a sua partida. Uma presença que transformou sua solidão em uma solitude. Descobriu que a capacidade da amar não dependia mais do alvo do seu amor, mas de sua capacidade em si mesma de amar. Eis sua conquista definitiva, soube, enfim, que era um homem que trazia em si a maior força (a que inclusive era a responsável por suas outras vitórias) a sua infinita capacidade de ter o amor em si.
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** * Para a caracterização da mulher combinei o meu próprio texto ao de Gabriel Garcia Marques em "Cem anos de solidão" , quando descreve Remédios; a caracterização da duquesa de Langeais feita por Balzac; trechos de Charles Baudelaire na obra " Sobre a Modernidade" e trechos de Agripa Vasconscelos quando descreve a lendária Dona Beija no livro "A vida em flor de Dona Beija".

janeiro 01, 2009

A falta de um conselho afetivo para começar de novo


“Se tiver dinheiro suficiente para comprar dois pães compre um e com o restante compre flores para enfeitar a sua casa”

Você já sentiu falta de alguém para te aconselhar em um momento confuso, em que está inseguro? Uma fase em que olha para a sua vida e senti angústia por não ter conquistado ainda o que quer? Quando questiona se sua vida está na rota certa? Quando está incerto sobre que caminho e decisões ter para si e para os que estão a sua volta?
Antes tínhamos avós sábios, pais mais pacientes que, com uma pequena frase, faziam nosso coração serenar. Hoje...temos de pagar psicólogos para termos conselhos...sempre com tempo marcado e cifras que impedem uma relação mais afetuosa e verdadeira, elementos necessários para conferir, junto as palavras, paz a nossa alma. Como isso não acontece...somos remediados em nossos vazios.
Como sinto falta de uma pequena frase....como essa que coloquei acima do texto que refleti sobre a necessidade da beleza em nossa vida. E, como não tenho esse tão importante conselheiro afetivo recorro a uma bela herança deixada por meu avó...livros do jornalista e médico norte-americano Orison Swett Marden. Funcionam, para mim, como conselhos deixados por um avó que não conheci...
Logo eu que desconfio do pragmatismo americano me rendi a esse psicólogo que inaugura uma literatura hoje conhecida como “auto-ajuda“. Marden perpetua através de uma linguagem rebuscada e com uma firmeza nas afirmações os conselhos tão necessários em tempos de conflito interno.
Quero aqui compartilhar conselhos da minha coleção de livros empueirados que preenchem minhas estantes e meus vazios...

“ As coisas não mudam, nós é que mudamos. O início de um hábito é como um fio invisível, mas cada vez que o repetimos o ato reforça o fio, acrescenta-lhe outro filamento, até que se torna um enorme cabo e nos prende de forma irremediável, no pensamento e ação” Marden