julho 29, 2010

CRIANÇA X ADULTO > Não quero voltar a ser criança


Desse saudosismo, não compartilho. Nunca quis voltar a ser criança. Ao contrário, quando criança queria crescer e estava certa, ser adulta é a melhor experiência que a vida nos oferece. Pois, se ser criança é: não assumir a sua vida integralmente. Não poder andar sozinha. Não ser independente. Não poder sair de casa, sem avisar aonde vai. Não poder escolher seus amigos. Pensar só em si e em seus desejos imediatos, pouco se importando para os outros. Falar e fazer brincadeiras idiotas, sem sentido, sem finalidade. Não ter um trabalho que se ame, na busca obstinada por um objetivo maior, para si e para os outros.... Desculpem-me os saudosos. Não quero voltar a ser criança, nem tenho paciência para criancices de adultos e de crianças. Ser adulto é a forma mais aproximada de ser você mesmo. De assumir erros e usufruir dos seus acertos, das suas apostas. É o momento da vida onde mais nos aproximamos da liberdade. Quando vc começa a escolher suas próprias roupas (mesmo que dentro do leque que a moda nos oferece). A sua carreira e seu carro. Sua casa e, especialmente, é o momento de escolher sua nova família.
Diz o senso comum: ser jovem é bom, pois não há responsabilidades, contas a pagar e decisões a tomar. Bobagem. Isso também significa não ter as rédeas da vida, ser conduzido, acomodar-se enquanto o outro dirige. Há quem goste dessa posição, há quem perpetue esse suposto lugar cômodo de passageiro. Adultos infantilizados. Mulheres dependentes. Homens morando com suas mães. Filhos eternamente mimados. Povos que adoram seus ditadores.
Me perguntaram: mas não há nada na sua infância que tenha saudade? A primeira coisa que veio a minha cabeça foi andar a cavalo na fazenda, mas logo pensei: ainda ando a cavalo; melhor, galopo, tomei as rédeas e não mais estou na garupa dos meus pais. A sensação é de mais risco, claro, mas também de mais vida, da minha vida ali, mesmo que em risco. E é preciso assumir os riscos para assumir sua vida. Disso eu sei.
Como é bom ser adulta...
Quando se é adulto você pode conversar e refletir sobre a vida com autoridade, com inteligência e escolher com quem quer compartilhar isso. Interlocutores com quem podemos conversar toda uma noite, uma vida. Por outro lado, me aborreço rapidamente com a tagarelice infantil sem sentido. Ou das infinitas perguntas que, previsivelmente, levam a lugar nenhum. Há quem veja nelas um sentido filosófico. Pra falar a verdade prefiro as perguntas de Nietzsche, do que as bobagens infantis de, de onde vem a nuvem? Prefiro saber de onde vem a vontade de potência, sinceramente! Relações adultas são as mais imprevisíveis e instigantes para o nosso pensamento, para a nossa vida. Quero ser adulta, para escolher. Para saber do que gosto ou não, para mudar de opinião e assumir com serenidade as minhas incertezas (sem os dramas da adolescência).
Mesmo que essas escolhas adultas envolvam decisões difíceis, como afastar-se de alguém de sua família. De eleger amigos. De ir embora quando o papo ficar chato. De comprar um livro. Ler, (em silêncio). Ficar sozinha. Ou, se não quiser, convidar alguém. Desfrutar de uma vista, tomar um vinho. Quero ser adulta, inclusive, para poder pensar se fui injusta ou não e poder formular um sentido ou uma falta de sentido das minhas atitudes. Voltar atrás, se ainda der tempo. Ser adulto é um segundo nascimento. Não mais de uma criança. Mas, de alguém que pode tornar-se o que é: adulto.

julho 07, 2010

ALMA IMORAL> A Alma Imoral




Todos nós nos deparamos com lugares que se tornam estreitos em determinado momento. Estes lugares, que outrora serviram para o nosso desenvolvimento e crescimento, se tornam apertados e limitadores. Qual é o caminho então?

Não é voltar e se acomodar,

Não é lutar com o passado,

Não é desesperar-se

e muito menos esperar,

Mas, marchar.

Esse profundo ato de confiança em si e no processo da vida garante a passagem pelo vazio. O que não existia passa a existir e um novo lugar amplo se faz acessível


Editei e interpretei passagens do texto que pode ser lido na íntegra no livro "A Alma Imoral", de Nilton Bonder (Ed:Rocco, p. 46-51). Livro adaptado para o teatro pela atriz Clarice Niskier,


Nessa passagem o autor reinterpreta a saída do povo hebreu do Egito, guiados por Moisés...