janeiro 19, 2011

SOLIDARIEDADE E ALEGRIA > A falta de solidariedade na alegria


Porque as pessoas são solidárias apenas durante as tragédias? Porque é tão difícil compartilhar também a alegria e as conquistas do outro? Segundo uma personagem do livro "Inveja" do jornalista Zuenir Ventura, Vera Loyola: "O verdadeiro amigo não é o que é solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso".
Não quero que pensem que afirmação vai contra a generosidade na tragédia. Entendo, inclusive, que esta solidariedade é o fundamento da reconstrução material e moral não só das famílias que perdem tudo em tragédias naturais, mas do próprio país.
O que não elimina a pergunta: Porque a solidariedade na alegria é tão rara? Porque somos acometidos por essa "tristeza de ver o outro feliz" (como bem a definiu São Francisco de Assis)
A experiência, infelizmente, confirma a suspeita. Eu, por exemplo, perdi mais amigos no momento que me estabilizei do que quando me encontrava em situações difíceis. E, o pior, os amigos se afastam sem dizer o por que. Outro mal desse pecado: o silêncio, a sua não confissão. Quem pode assumir que está triste porque o amigo está feliz? Melhor mesmo é sair de fininho, em silêncio. Nelson Rodrigues dizia que “há coisas que o sujeito não confessa nem ao padre, nem ao psicanalista e nem ao médium depois de morto”. A inveja deve ser o nosso primeiro segredo.
Assistia recentemente a uma partida de tênis pela TV. O número 1 jogando contra um tenista que acabava de machucar o joelho. O campeão não recebia nenhum aplauso, enquanto um ponto do jogador lastimado era motivo de palmas e gritos da platéia. Pensei: como deve ser solitário ser o número um. Ele fez tanto para chegar ali, mas agora não merece a solidariedade em seu sucesso. Por quê? Porque ele é o número um! Porque o outro, pobre coitado, está ali se matando na quadra para fazer um ponto.
Será que Oscar Wilde tinha razão ao afirmar que “a cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre”.
O que preferir: A mediocridade e aceitação do outro ou o sucesso e a solidão? A companhia ou sua realização pessoal?
“Meu irmão! Queres caminhar para a solidão? Queres procurar o caminho que conduz a ti mesmo? Detém-te um pouco e escuta-me. ‘Aquele que procura facilmente se perde a si mesmo. Todo partir para a solidão é culpa – assim fala o rebanho. E tu fizeste parte do rebanho durante muito tempo. A voz do rebanho continuará ressoando dentro de ti. Queres, porém, percorrer o caminho de tua tribulação, que é o caminho para ti mesmo? Mostra-me, então, teu direito e tua força para fazê-lo’” – Nietzsche, Assim falou Zaratustra

2 comentários:

Herbert Rodrigues disse...

Isabelle,
Esse post me lembrou uma música do Morrissey "We hate it when our friends become successful".
http://www.youtube.com/watch?v=0XpjjSKVJkk
De vez enquando, eu cantarolo essa música. Infelizmente, as coisas são assim, né?
Beijos e sucesso pra todos nós!!!

Herbert

Geisa Mara de Castro disse...

Isabelle,

Tenho pensado muito sobre o que escreveu aqui. Talvez as pessoas não suportem a alegria do sucesso do outro e até mesmo o caminho para ele. Quando anunciamos o primeiro passo para um “fazer diferente”, já somos julgados mesmo que em silêncio. Mas, esse ato de coragem, de bravura, de enfrentamento será sempre aplaudido pelos que realmente nos querem bem. Lembrei de uma música linda, “Por Brilho” de Oswaldo Montenegro: “Onde vá, vá para ser estrela / As coisas se transformam / Isso não é bom nem mal”.
(http://www.youtube.com/watch?v=YSot0gTkJZo)

Saudades,

Geisa Mara