setembro 22, 2011

O POEMA E A PEDRA> Em um dia a pedra é um poema, no outro: pedra



Há dias que uma pedra pode inspirar um poema (que o diga Drummond), mas há outros que pedra é pedra mesmo e ponto final.



Nisso parafraseio uma fala da mineira Adélia Prado em uma palestra. Nunca me esqueci. Não seria possível. Os dias me lembram...



Em uns a vida parece repleta de sentido. Nos julgamos úteis. Amados. Desejados. Necessários;

Os propósitos parecem bons e a força para alcançá-los nos toma.
Em outros...
Nos sentimos sem energia, vazios,
A falta de sentido nos arrebata. 
E se avida não faz sentido, nossa vida parece contribuir para esse nada,
Não acreditamos no nosso valor e por isso, não sabemos porque nos dão atenção, se preocupam...
“Se me escavarem nada encontraram” só frio e solidão ou quem sabe “desejo, quase ingratidão” (Adélia Prado). 
Me pergunto: Como a mesma coisa que pode nos alegrar um dia pode, no outro, ser fruto da nossa tristeza?

Isso me lembra Khalil Gibran: “Não é a taça que contém vosso vinho a mesma que foi queimada no forno do oleiro?”

A mineira tinha mesmo razão: Um dia a pedra é um poema, no outro: pedra.
Do tédio ao entusiasmo. Do entusiasmo ao tédio.
Queria constância.
Não a encontrei,
Parece que só quem renuncia a vida _ através da religião, do niilismo, do budismo, da ignorância _ a encontra,
Não quero me esvaziar para nada sentir, ou enganar meus sentidos,

Quem sabe me conformo e passo a entender, tal como Gibran, essa indissociável e inescapável  relação

"Elas são inseparáveis.
Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama.Em verdade, vós estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria.É somente quando estais vazios que estais equilibrados.
Quando o guarda do tesouro vos suspende para pesar seu ouro e sua prata, então deve a vossa alegria ou a vossa tristeza subir ou descer”.



(“A Alegria e a Tristeza segundo o profeta”. Gibran Khalil Gibran, 1883 –1931. In: O Profeta, pp. 27-28). 

4 comentários:

Gisele Divinópolis disse...

Muito bom! Parabéns!

Carpe Diem disse...

Lindo!

Anônimo disse...

Excelente texto.....tudo é provisório....em um momento somos especiais.....em outro...somos mais um na multidão......tem momentos que um dia é mágico....em outros...a mágia se torna piegas....
F.CAPONE

Isabelle De Melo Anchieta disse...

Caro,
Acredito que o que define a permanência está muitas vezes associado ao grau de entrega entre as pessoas. Entregar-se parcialmente as pessoas, situações, pode parecer uma forma de se proteger-se, mas no fundo é se condenar a viver uma meia vida. São os graus de entrega mútua que definem a qualidade e durabilidade das relações.
Não me referia a descartar pessoas em meu texto. Elas ficam, sempre em nossa memória afetiva. Elas mudam nosso percurso. Como define Rousseau a felicidade é um estado instável porque a razão da nossa maior alegria e da maior tristeza está em sua grande maioria associado a nossa relação com o outro. E o outro está sempre fora do nosso controle. Para bem e para o mal. Não há saída. Por isso o melhor é entregar-se incondicionalmente, sob pena de não podermos viver a intensidade da vida em nós.