maio 22, 2011

SONHOS> Sonhar sabendo que se está a sonhar


Ser o que não se é. Imaginar o que não está. Sentir. Presentificando uma experiência contra a materialidade dada. Reinventamos o tempo. Passamos para o outro lado. Para usar outras roupas. Somos homens, mulheres. "Cross-dressing". O corpo pode ganhar novas formas. Seios, cabelos, pinturas. Lúdico. “Homo Ludens” (Huizinga).
A cultura é a nossa natureza. Brincamos de ser. Ser mulher, ser homem, adolescentes, punks, hippies, drags. Brincamos de ser o que somos nesses outros.
As estereotipas não são mais "tipos fixos", mas móveis. Sobrepõem-se. Chocam-se, mas combinam-se contra todas as probabilidades de darem certo. Dão certo. Loiras, inteligentes, Madonas, recatadas, sexys = Ladys Gagas. Conscientes de que o mundo não pode ser levado à sério. "Desdramatizar o mundo" é escolher o riso e não o conflito. É saber transitar, colocando o peso da armadura no chão em privilégio da leveza do movimento contraditório. Barroco. De ser claro e escuro. De mudar de posição. As trocas são a razão da nossa tolerância. O que é rígido não troca: separa. Tudo que troca, combina-se, choca-se, mas sempre comunica-se.
Saímos de sistemas de formalidades que hierarquizam, para informalidades que democratizam sem igualar (ELIAS,). Quem sabe um dia poderemos entender que a democracia é, na prática, e com toda justiça uma “meritocracia”. Quando as condições iguais são a base para pessoas diferentes disputarem entre si. Pois, investimos em interesses diferentes e é essa aposta e essa determinação ou melhor, paixão, que deve nos diferenciar. É a descoberta dela e seu florescimento a causa do nosso sucesso ou fracasso. Tornar-se consciente de sua paixão, escolher, apostar (que é também arriscar-se) e investir. Criar o que não estava. Tanto a si, quanto ao seu entorno. Um ser que não é mais um a priori, mas um a posteriori. Não sou “professora”, mas torno-me professora a cada vez que leciono uma aula (essa ideia devo à Vera França). Nossos lugares não são mais dados de antemão. Não somos respeitados porque temos uma nomeação ou lugar social. O respeito é uma conquista movida por um esforço ininterrupto...
De ser o que se deseja ser. De tornar-se o que se é.
De "sonhar, sabendo que se está a sonhar".

8 comentários:

Ouroboros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ouroboros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joandre Oliveira Melo disse...

Prezada Isabelle, boa tarde:

Belo artigo sobre o eterno sonhar da sociedade. Uma visão de sociedade a partir da maneira de pensar esta sociedade.
Ocorre que a sociedade hierarquizada do passado desfaz-se como chocolate em um copo d'água. A sociedade líquida, volátil emerge no caos...
A democracia mostra-se como a ditadura da maioria.
Talvez, não saibamos o que fazer depois que fomos despertados.

Joandre

Claudia Sciré disse...

e nada mais que a pluraridade como característica dessa nossa atualidade

Anônimo disse...

Olá trata-se a 1ª vez que li o teu espaço online e adorei tanto!Espectacular Trabalho!
Até à próxima

Anônimo disse...

Olá foi a 2ª vez que vi a tua página e gostei muito!Bom Projecto!
Cumps

-Lú disse...

A teoria dos campos - de Pierre Bourdieu - relata muito bem as inúmeras identidades que o homem moderno tem. Num mesmo dia atuamos em diversos meios, cada qual com função diferente e graus de relevância distintos. Por isso me encanta tanto o futebol, seja na arquibancada de um estádio ou em uma pelada de final de semana não existe distinção nem entre os torcedores muito menos entre os peladeiros. Na arquibancada, um PHD abraça um catador de papel durante a euforia de um gol. Já numa pelada, o CEO de uma empresa pode levar bronca de um operário por realizar um passe errado.

Érico Oyama disse...

A teoria dos campos - de Pierre Bourdieu - relata muito bem as inúmeras identidades que o homem moderno tem. Num mesmo dia atuamos em diversos meios, cada qual com função diferente e graus de relevância distintos. Por isso me encanta tanto o futebol, seja na arquibancada de um estádio ou em uma pelada de final de semana não existe distinção nem entre os torcedores muito menos entre os peladeiros. Na arquibancada, um PHD abraça um catador de papel durante a euforia de um gol. Já numa pelada, o CEO de uma empresa pode levar bronca de um operário por realizar um passe errado.