Rosetti, 1828
Aprendemos com o mito de Pandora e de sua caixa que a esperança é a “última que morre”. Para quem não conhece, Pandora é um mito grego para explicar a criação da primeira mulher mortal. Só haviam homens na terra e eles não possuíam inteligência vivendo como bestas (sem reflexividade, cultura e técnicas). Um deus titã chamado Prometeu quis enganar a Zeus (deus que governa os demais) e ajudar os homens levando o fogo divino do Monte Olímpo (que representava a inteligência) para a Terra. Algumas versões relatam que Atena o teria ajudado. Furioso Zeus castiga Prometeu. Acorrenta-o no monte Cáucaso onde todos os dias uma ave picava-lhe o fígado, curando-se todas as noites. Num ciclo infindável de sofrimento, cura e sofrimento.
Zeus decide, igualmente, vingar-se dos homens criando a mulher. Denominada de Pandora, "a rica em presentes". Um dos titãs, Hefesto, a fez assim por ordem de Zeus, reunindo todos os dons dos Deuses: Atena (Minerva) lhe deu a vida com um sopro e ensinou-lhe a arte da tecelagem; Afrodite (Vênus) deu-lhe a beleza; Apolo confere-lhe a voz suave do canto e a música; Hermes (Mercúrio) a persuasão. Por tudo isso ela recebeu o nome de Pandora: "a que possui todos os dons". Ela seria a forma mais perfeita e eficaz para levar o malefício para a Terra. Ao abrir sua caixa espalha todos os males para os homens. A única coisa que Pandora consegue manter dentro dela é a Esperança.
Uma última benevolência de Zeus? Não. O pior dos males enviado aos homens (e mulheres).
Desesperar. Esperar. Esperança. A crença de que tudo será melhor amanhã. Que a vida sempre nos reserva algo bom ao fim. Uma consolo para termos paciência na dor, pois "o que é seu está guardado" (como a esperança na caixa de Pandora). Acorrentados, imobilizados pela espera do melhor perpetuamos a dor.
No fundo o castigo de Prometeu e dos homens é similar: “Zeus queria, com efeito, que o homem, mesmo torturado por outros males, não rejeitasse contudo a vida, mas continuasse a se deixar torturar sempre de novo” (Nietzsche, HDH, p.75).
“Para isso dá ao homem a esperança: na verdade ela é o pior dos males, pois prolonga os tormentos do homem” (Nietzsche, HDH, p.75)
Mas, o que nos faz lutar? Agir, depois que perdemos a esperança? A paixão. Sermos arrebatados por algo. Aquilo que captura todas as nossas forças.
A paixão é feita de violência. De urgência. Não há moderação, mas excesso. Entrega. Risco. Não nos preservamos. Não poupamos uma gota de nossa energia e encontramos outras mais quando julgamos ter perdido todas.
Queremos e queremos agora.
Abundam forças na paixão. Fazermos coisas que não nos julgávamos capazes. Superamos a nós mesmos. O impossível: possível. A paixão é feita de entusiasmo. De comover-se. Mover-se. Ela não é uma espera, mas uma coragem alegre.
Grandes são os homens e mulheres que perderam as esperanças, mas mantiveram-se fiéis as suas paixões.
Um comentário:
EXCELENTE TEXTO!
Fiorentino Caponne
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