Uma lastimável decisão do STF. O argumento: fraco. Dizer que a formação superior impede a liberdade de expressão é o mesmo que afirmar que a liberdade é algo sem limites, sem restrição, se o fosse não precisaríamos de leis, de STF. Garantir a qualidade da informação é garantir uma sociedade politizada e livre. Manter o controle sobre a base cognitiva do conhecimento que distingue a profissão nunca impediu a livre manifestação das pessoas, ao contrário. Pois, o jornalista é aquele que estabelece o debate social, como um juíz, dando as partes um tratamento imparcial - o que não acontece com os artigos opinativos de especialistas (que não apuram o fato para além da sua própria visão do assunto). Sem jornalistas estaríamos fadados a ter visões parciais e especializadas do mundo, incapazes de estabelecer um debate social mais amplo. Para essa importante função o jornalista precisa: de formação humanística, associada a tecnicas-éticas de produção de informação. O jornalista é aquele capaz de mediar, de tornar comunicável através de um conjunto de conhecimentos próprios os acontecimentos. Tentarei demonstrar, no artigo indicado abaixo, quais as razões que justificam não o fim das exigências, mas a sua consolidação e intensificação. O jornalismo é, sim, uma área de conhecimento específico que possui decisiva importância sobre as dinâmicas sociais em que está inserido. E, que, por isso, tem uma responsabilidade acrescida sobre a emancipação ou não dos sujeitos e da sociedade. E, como toda profissão que possui tal responsabilidade social, o jornalismo deve vir acompanhado de três elementos fundamentais: formação de qualidade, liberdade de expressão e limites ao exercício dessa liberdade. É nesse sentido que devemos nos empenhar em legitimar o lugar de um comunicador autorizado capaz de realizar as operações técnicas e éticas próprias a profissão e dignas de uma sociedade democrática. O caminho contrário, sua deslegitimação, parece servir apenas aos interesses de pessoas que favorecem-se da ignorância social e da despolitização dos cidadãos.
Um comentário:
O fim da regulamentação da nossa profissão se caracteriza, antes de mais nada, como um ataque a todos os nossos direitos trabalhistas conquistados através das lutas.
A manobra golpista das empresas de comunicação apoiada pelo STF, não está relacionada de forma alguma à discussão da democratização da comunicação (como querem fazer parecer alguns). Mesmo porque, os veículos de comunicação continuam nas mãos de 41 grupos que dirigem 551 veículos em todo o território nacional e estes estão diretamente ligados a 10 políticos. O dia em que o STF ao invés de derrubar diploma, derrubar esses tubarões da comunicação, pode - se falar em democratização.
Ao contrário, com o desmanche da nossa profissionalização, a pressão para que o jornalista não cumpra com seu papel social na produção de notícia e sirva somente a interesses de uma minoria aumenta ainda mais.
Em Minas Gerais, há muito as redações não “respiravam liberdade” por causa do autoritarismo de Aécio Neves. Com o sucateamento da nossa profissão a tendência dos empresários é só aumentar o controle ideológico de seus trabalhadores jornalistas sem conflitos éticos e compromissos sociais.
Além disso, os donos dos veículos de comunicação ficam liberados para contratar quem bem entenderem no grande exército de reserva (desemprego de mais de 30% entre os jovens de 18 e 25 anos), aumentando a pressão para rebaixar ainda mais os salários, sem o menor respeito aos pisos salariais conquistados pela categoria profissional, deslegitimando seus órgãos classistas (sindicatos, federações e etc).
O sucateamento da nossa profissão só serve à super-exploração dos trabalhadores do jornalismo pelos empresários. Portanto, a derrubada do diploma é antes de mais nada uma vitória da exploração dos empresários sobre o nosso trabalho, dignidade e reconhecimento profissional.
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