junho 20, 2008

A vida não pára : a vida é tão rara

Aprendemos duas coisas distintas e contraditórias, primeiro a de que temos de conquistar a vida o quanto antes, ter dela as nossas respostas. Mas, aprendemos, em seguida, que é preciso saber olhar a paisagem e não só acelerar.
Eis a grande confusão, a grande ansiedade com a passagem do tempo, misturada a uma perda irreparável. Ansiedade por não ter se tornado ainda o que se pode ser e por, ao mesmo tempo, esgotar o tempo das coisas fundamentais nessa busca. A falta com as pessoas que amamos, a falta conosco. Assim, se por um lado não nos é dado o espaço de parar, não sobra para viver, ser, estar. Se não nos movimentamos as coisas não nos chegam e se não paramos perdemos coisas fundamentais, raras. É preciso também de um sorriso, de um toque de quem amamos. Do corpo entregue, da mente livre. Esse tempo irreparável. Essa alegria que nos escapa a cada instante.
Há outro inquietante elemento: o da tragicidade de viver. No sentido de que nunca teremos a certeza de que estamos trilhando o caminho certo e, por isso, ele, o caminho em que estamos sempre tornar-se uma questão. A contradição agrava-se, pois agora nos perguntamos se a pressa para chegar nesse “algum lugar” faz sentido. Guimarães Rosa dizia que não, que o movimento que prossegue nunca chega ao fim, pois “o rio não quer chegar a lugar algum, só quer ser mais profundo”. Acho esse pensamento de uma sabedoria da qual ainda não compartilho o conforto, já que não me acalma. Prefiro a resposta despretenciosa de um amigo que me disse: “o caminho certo é aquele que você está nele”. Isso me acalmou, pois revelou primeiro que não existe caminho certo e segundo que o caminho certo se faz ao caminhar e que não há outro a seguir a não ser o que se está nele. Mas, mesmo assim, continua a angústia, o não saber, a tragicidade (na qual Nietzsche viu tanta beleza).
Continua a questão, pois ela é de natureza insolúvel. Não há visionário que possa traçar essa tão frágil e instável linha. Eis o grande peso de viver e decidir em busca do equilíbrio na leveza necessária.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Isabella. Estou adorando visitar seu blog. Está repleto de coisas interessantes e inteligentes. Comentamos outro dia, que vc poderia dar mais alguma matéria pra gente (Newton, noite). Saudades. Passa lá tamaraemcriticas.blogspot.com...
Bjossss

Isabelle De Melo Anchieta disse...

Oi Tamara,
estou super feliz com seu comentário. Também sinto falta de você e da turma e espero voltar ainda a encontrá-los. Por enquanto estou dando aula para o sétimo manhã em Ancoragem e Produção em TV. Mas, a cada semestre alteramos isso. Passo sim para vê-los. Enorme beijo e obrigado pelas considerações sobre o blog. Faço com o maior carinho para dividir mesmo, essa é a motivação e, por isso, é tão importante seu retorno.