junho 13, 2012

Parar de dar aula....voltar para a TV



Mais uma encruzilhada,

Dessas muitas que nos deparamos depois de trilhar rotas sem bifurcação
Duas placas se anunciam: uma continua, outra leva a um caminho parcialmente desconhecido
O mais difícil dessa opção é que não trata-se do clichê de estar entre o comodismo e a mudança,
Já que a via principal é também o princípio, o meu princípio, o fundamento: onde encontro as minhas maiores forças, onde posso me doar e de onde recebo uma inesgotável fonte de reconhecimento e afeto. Ensinar. Meus alunos. Como é bom, como tenho prazer... Porque isso sou eu, EU em caixa alta.
No segundo caminho: a TV. Nela já tive experiências que ora me fizeram sentir em caixa alta, ora em baixa. Com ela realizei experimentações de linguagem, misturei literatura com imagens e descobri um novo prazer.
Dentre eles o de me superar. De ter que lidar com minha imagem: com as delícias e as aflições dessa frágil relação _ tão delicada e tão humana. Fiz com a TV o exercício de encontrar um lugar que estivesse além da minha vaidade. Por isso foi bom parar! Para poder reencontrar minha base forte: a do conhecimento. Com ele ganho asas para deixar minhas mesquinharias abaixo. Onde possa ver com olhos de águia e engolir meus lixos de forma violenta, na espera de lançar-me novamente em busca de ar limpo. 
Nesse rota que agora vou tomar quero ser guiada por essa águia do conhecimento; não pelos ratos da minha vaidade. 
Superar-me com o objetivo de oferecer para as pessoas algo que ao mesmo tempo está e que transcende minha imagem.
Um programa que criei, sobre um tema que estudo há mais de 7 anos: as imagens da mulher. Mulheres Imprevisíveis. Um programa que traz como pano de fundo uma questão simples e central: a de como viver? quais os riscos, as delícias e o preço de romper com a previsibilidade? Segundo o filósofo suíço Jean Jaques Rousseau relatar a vida dos outros nos oferece esse exercício: o de nos confrontar com nossa própria vida e com os limites que criamos ou que enfrentamos para vivê-la. Em uma citação Rousseau diz: “para conhecer seu coração, é preciso começar por ler o coração de outrem. Os heróis imperfeitos de nosso tempo incitam não a imitação ou a submissão, mas ao exame e interrogação”     

Quero aprender com essas mulheres! Quero contar bem essa história e dividir tb o que aprendi nesses anos de estudo de doutoramento sobre o tema.

Dar existência a esse programa faz ecoar em mim um conceito filosófico que norteia meu modo de pensar e agir. Quem me ofereceu essa ideia, não sem propósito, é o  meu autor favorito. Ele o diz lindamente assim:
"E se mais adiante te faltarem todas as escadas, será preciso saber subir sobre a tua própria cabeça, senão como quererias subir mais alto?" (Nietzsche. A.F.Z, p.122)  

Vou tentar ser na TV, com esse programa, o que sou para meus alunos;
Por isso essa mensagem é também uma pequena despedida da sala de aula (que tanto me aperta o peito)
É um até logo para pegar uma rota nova que agora exige isso, 
Mas, que em breve será uma via paralela,
Queridos, vcs me deram mais do que eu dei a vcs,
Vcs me oferecem, generosamente, uma imagem para mim mesma. Foram o mais belo espelho que tive, formando uma Isabelle Anchieta da qual me orgulho. Um EU em caixa alta, sempre alta...

Por isso, perder vocês de vista é correr o risco de me perder um pouco também,
Espero me reencontrar nesse outro lugar, usando via memória afetiva, a imagem que me deram,

Com carinho, saudades e agradecimento,
Isabelle Anchieta